"MACHADADAS" EM ASSIS
"MACHADADAS" EM ASSIS
"Nada se emenda bem nos livros confusos,
mas tudo se pode meter nos livros omissos".
MACHADO DE ASSIS - (pag. 105 de "Dom
Casmurro", edit. Martin Claret, SP, 2010)
Estava num jornal desta semana -- junho de 2020, na tropicaliente Belém do Pará -- entrevista da jovem loira bonita declarando que ganha dinheiro exibindo o seu "dia-a-dia" (antigamente era "derrière") e até seu sono. Um homem paga para vê-la dormindo, outros para despir-se, um outro quer admirar-lhe somente os pés. Em "Dom Casmurro" o personagem principal de Machado de Assis adora braços femininos, mas chega a apalpar o de um amigo. Braços e pernas -- que não obedecem ao cérebro ou que agem à margem dele -- são citados com frequência, 4 ou 5 vezes.
Curiosamente, larguei pela metade obra de um certo António Albalat, de 1912 (a que li era de 1944, em 12ª dição), severíssimo crítico dos escritores, mesmo famosos dos anos entre 1870 até a época do lançamento de seu arrazoado viperino. Machado de Assis não passaria pelo crivo aprobatório daquele Autor, só pela repetição de cenas numa mesma obra. Pensava eu que dirigir-se ao leitor era "invenção minha" -- exageros à parte -- mas nesse "romance" Machado nos convoca à exaustão, chega a irritar. Explica-se: êle publicava contos e obras mais extensas em jornais dos 1870/90 e, nesses casos, em pequenos espaços, daí a existência de 148 "capítulos, 2 por página. Há de tudo NO ROMANCE "Dom Casmurro"... menos romance ! O pequeno herói mimado, Bento Santiago, beija "Capitu" aos 13-14 anos -- quando lhe penteava as madeixas -- torna a fazê-lo lá pelos 15, já no Seminário, de onde consegue sair os 17, ou pouco mais, e vai "cuidar da Vida", estudando Advocacia. A suposta namorada -- morando na casa ao lado -- "desaparece" das páginas do livro, "evapora-se" e vai reaparecer já casada, com discussões bobas na "lua de mel", no cap. 101.
Caro leitor, estimada leitora... se você é FÃ deste escritor sugiro largar o texto por aqui, vou demolir a obra a "machadadas". Em minha opinião Joaquim Maria não tinha uma estória quando sentou para produzir 'Dom Casmurro", daí a necessidade (?!) de "biografar" inúmeros personagens insignificantes, entrou até um menino moribundo (com lepra), presença desnecessária ao "romance", tanto quanto os de vários outros... primo, tia, escravos, uma égua e um tal de Pádua, tudo somente para "engordar" um enredo raquítico. Quanto ao AMOR entre os 2 "pombinhos", andorinhas vizinhas... nem uma palavra ! CINCO ANOS (título do cap. 98) se passaram, todos dedicados ao estudo de Direito e êle formou-se bacharel aos 22 anos, no terço final do livro. Só depois casaram, após permissão da mãe dele... Bentinho arrumara um amigo no Seminário -- bem mais velho que êle -- que, tudo indica "substitui" o pai que o garoto mimado perdera aos 4 ou 5 anos. Machado de Assis deixa nas entrelinha que o amigo Escobar seria, no fundo, apenas um interesseiro, tentando "dar o golpe do baú". Como a mãe de Bentinho era inacessível, contentou-se em cortejar (depois, casar) com a irmã da vizinha.
Escobar, que fez a alegria do Bento seminarista, seria também o "pai" de sua desgraça. Não vou adiantar da obra mais coisa alguma, quem quiser que passe "pelo suplício" a que me submeti, espécie de "prato de jiló com quiabo", no almoço e no jantar. Difícil é entender as dúvidas de tantos com relação à Capitolina, quando tudo está tão claro e que até a esposa do amigo traidor -- a "corna" Sancha -- saberia e sugeriu "com os olhos" uma tórrida vingança para o desarvorado Bento.
Enfim, é o primeiro romance -- ou seja lá o que fôr -- de Machado de Assis que leio de forma consciente, com vagar, sem a pressa de me livrar da "incumbência"... e definitivamente não me agradou ! Creio que dele já lera algo 20 anos antes, a do amor entre um casal de irmãos e mais um outro romance no qual a esposa moribunda "vegetava" num quarto modesto, com grande relógio, recebendo do marido militar -- lutando na Guerra do Paraguai -- apenas cartas. Em quadrinhos, a vida de um médico maníaco que envenenava seus pacientes e, em contos, 3 ou 4 obras "meio sem graça".
Não estou sozinho em minha decepção com o "Bruxo do Catete"... segundo o livro, embora fizesse sucesso entre o povo da época, vários literatos de renome o criticaram e Sílvio Romero (em 1897) "meteu o pau" no "estilo tartamudo e epiléptico" de sua narrativa. Quem já tentou rachar tronco roliço com machado está quase na mesma situação do leitor que precisa ver (?!) predicados onde êles não aparecem... porque tantos repetem "como papagaios" que se trata de um gênio !
"NATO" AZEVEDO (em 8/junho 2020, 17 hs)
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(OBS: abaixo trecho do recente texto "CONSIDERAÇÕES SOBRE MACHADO", postado aqui em 31/março 2023, no setor ARTIGOS - Literatura, do meu espaço neste portal... confiram lá o texto completo:)
Santiago (2010) defende a atualização da fortuna crítica machadiana entendendo sua obra como um todo progressivo:
"Já é tempo de se começar a compreender a obra de Machado de Assis como um todo coerente e organizado, percebendo que à medida que seus textos se sucedem cronologicamente e se desarticulam e rearticulam sob forma de estruturas diferentes, mais complexas e mais sofisticadas. Certa crítica que se faz À MONOTONIA DA OBRA de Machado, À REPETIÇÃO em seus romances e contos de certos temas e episódios, ocasionando desgaste emocional por parte do leitor (ou do crítico impressionista), tem de ser também urgentemente revista". (SANTIAGO, 2010, p. 27)
Meyer (2005) é citado por Santiago (2010) como exemplo desse tipo de crítica que já não deveria continuar tendo trânsito:
"Por mais ágil que pareça, Machado não consegue alçar vôo além dos seus horizontes familiares. Falta portanto extensão e acrescentamento humano ao âmbito de sua obra, tão monocórdia em seu conjunto e tão incapaz de abarcar, como obra mais arejada de grandes criadores de ficção, a riqueza complexa e trágica do bicho da terra chamado Homem, nas suas manifestações imprevisíveis. A melhor prova disso é que ele ganha muito em ser lido aos trechos, ou a largos intervalos de leitura, para que o esquecimento relativo ajude a sentir, não a inércia da repetição e os lado mais fracos, mas a graça original dos melhores momentos. (MEYER, 2005, p. 141)
Santiago (2010) contesta este trecho de Meyer (2005) entendendo as repetições de estrutura como parte da essência da obra, refutando a validade deste tipo de crítica. (etc, CONTINUA...)