VAMOS FALAR DA CEGUEIRA DO LIVRO DO SARAMAGO

Nos dias de hoje é impossível não comparar com o livro do Saramago, Ensaio Sobre A Cegueira.

As pessoas estão cegas, faz muito tempo, essa cegueira permitiu que pessoas más assumissem o poder, uma vez estando lá, lançaram mão dele, para retirar o pouco que a grande maioria havia conseguido com uma história de escravidão, desmandos, explorações, em nome da econômia, lideraram os cegos sociais, levando-os para o abismo, sem direito a reclamações, e esses cegos em sua maioria foram aplaudindo, achando que seu líder realmente os estavam ajudando. Antes ninguém poderia assinar a carteira recebendo menos de um salário mínimo, trabalhar mais que oito horas, pois bem, agora tudo mudou.

Com a pandemia a coisa ficou muito pior, pois o líder dos cegos apregoa que é preciso contaminar ao máximo da população para que fiquem imunes logo e voltem ao trabalho, o percentual que irá morrer, não faz mal, afinal todos morreremos um dia, a econômia do país não pode parar, temos cegos aplaudindo esse discurso, até que um parente seu morra e contamine toda a sua família e não tenha leito nos hospitais, aí a cegueira acaba, mas já será tarde demais, o terror já está acontecendo,

Nas ruas há um cheiro de morte no ar, nos mercados os alimentos vêm com a máscara do medo, as notícias são sempre de dor e solidariedade, ainda bem que a maioria das pessoas ainda se permitem pensar no próximo.

Ontem conheci um senhor italiano, bem idoso, ele cantava uma música triste, sentado no banco do supermercado, conversei com ele, que me disse que estava velho e queria morrer logo, pois tinha uma doença, que para tratá-la teria que ter oitenta mil, e ele não tinha, esperava uma dinheiro que viria da Itália, fruto de uma herança, mas que estava demorando muito, que todos desejavam que ele morresse logo, para ficarem com o quê lhes pertencia, ele queria que esse vírus o mordesse logo, como se fosse um mosquito, me deu uma pena dele, olhei a minha volta e senti pena em geral, até de mim, porque estamos todos meio cegos, sem saber onde vai essa pandemia, com esses seres querendo mais é que todos se contaminem logo, na contra mão de todos no mundo inteiro.

Como no livro, me vi guiando um grupo, buscando comida, vendo a podridão da alma humana, que se degrada, que não tem empatia, que deseja os cofres cheios para si e para os seus, o povo que se dane, porque por aqui sempre foi assim, sempre tivemos uma elite dominante, que escravizava e rezava nas igrejas com um deus conivente e cego, que permitia que outros seres sofressem, em nome de uma supremacia econômica, esse mesmo deus é o líder desses cegos que lideram, que pregam a ditadura, que pregam a tortura, que pregam que pessoas não podem ter liberdade de pensamento, que querem matar a educação libertadora de Paulo Freire, querem acabar com tudo que havia meio capenga, nossa arte, nossa cultura.

A cegueira é geral nessas terras brasiles, pode ser que um dia ela acabe como no livro, mas o estrago que ela vai deixar na alma de quem perdeu seu ente querido, que envelheceu e não conseguiu a tão sonhada aposentadoria, dos velhos que morreram doentes sem condições de comprar seu remédio, das crianças que crescerão sem direitos trabalhistas mínimos, que terão que se permitir aos abusos dos patrões, para levar uma miséria para alimentar os seus famintos dependentes, isso será como um câncer social.

Me dói ver as pessoas aglomeradas na porta dos bancos, tentado receber uns míseros tostões, que têm por direito, que não é favor, elas esmolam por comida, e as pessoas que mandam, devem ver as cenas e sorriem, devem pensar - Não vão trabalhar, mas em casa também não ficarão, pois precisam de dinheiro, eu tenho o dinheiro deles, mas só vou dar quando a maioria se infectar e ficarem imunes para fazer mais dinheiro, para a máquina gastar entre a minoria dominante.

Isso tudo é uma vergonha, é uma cegueira muito pior que a do livro, porque não é do corpo e temporária, é uma cegueira da alma, isso nos deixa muito tristes.

Como o TEMPO é o DEUS maior, vamos aguardar e deixar ele com a palavra final.