SOCIEDADE HORIZONTAL

O mundo foi desenhado com base no trabalho do homem, onde tudo está adequado à sua natureza e de acordo com as suas escolhas na capacidade de criação e comunicação, em que palavras e metáforas formam conceitos para o viver.

Estamos menos solitários graças à tecnologia. Hoje, a sociedade pode ser classificada como horizontal; temos a oportunidade de escolher a expressão e experimentar viver em redes internéticas. A tecnologia traz a rapidez da vivência junto com a diversidade, permeando relações, inclusive em relação ao tempo. Para José Eduardo Degrazia, “... A vida primata / o olho eletrônico espiona: / fica anotado o menor gesto / no computador, na nossa memória...”

Com os novos tempos ficamos livres para buscar o que queremos: produzir, somar e dividir. Mas é preciso ter equilíbrio para viver numa sociedade horizontal, porque lidamos com mudanças e modelos mentais e culturais. Foed Castro Chamma expressa, “Meu exercício é inventar-me e não me invento / senão para esperar que nesta sala / eu me escute calado a celebrar / a magia da minha própria fala...”

Neste mundo veloz e volátil, devemos estar atentos ao significante das coisas e das palavras, pois, as novidades se multiplicam a todo instante, sem parar. Somos por natureza quem encontra significados em tudo. Somos simbólicos; se não experimentarmos nos desumanizamos. Somos sensíveis para perceber o outro. Ainda em Chamma, “Junto a esta minha solidão à tua / e contigo convivo à distância / sem outro bem além de alimentar / em silêncio a caverna onde recolho / o ágil pensamento que retorna repleto de aroma dos teus ares...”

Estamos sempre em direção ao futuro ao reconhecermos a beleza da imperfeição. Gostamos da estética. Satisfazemos-nos com a ética e a verdade. Executamos diversas atividades ao mesmo tempo e, assim, entramos em contato com o desejo de praticar o individualismo na sociedade horizontal. Fugimos da solidão ao manter o contato visual. Novamente, Foed Chamma, “... Nessa treva onde a luz é o horizonte / do pensamento brota a vegetação / de um encontro real, pois o conflito / é reduzir a fuga à solidão...”

É preciso estar conscientes dessa alternativa, para que possamos expressar e optar em favor da felicidade, o que significa não gastar tempo demais nas redes, especialmente se isso interromper as atividades diárias e as relações pessoais; não vale a pena checarmos novas mensagens o tempo todo.

Se olharmos mais, veremos que o moderno está presente em nossas vidas de forma primária, trazendo inovações na representação das ideias, bem como na imitação da realidade; o que torna a relação tecnológica paradoxal, porque tem por objetivo ser a mais realista possível, através da multiplicação dos pontos de vista. Segundo Gilberto Cunha, “A vida exige flexibilidade, pois, em função de condições humanas e sociais, não se pode levar tudo em termos absolutos, especialmente diante das coisas que não conhecemos...”

A ironia é que, como imitação perfeita da realidade, a sociedade horizontal recupera de forma conciliadora a necessidade de termos amigos e atuarmos em grupo.