SEM PÉ, NEM CABEÇA

Expressão a que me refiro para as atitudes sem fundamento, sem razão de ser, como barco sem âncora e jardim sem flores.

Infelizmente, hoje, é o que mais escuto: discursos sem pé, nem cabeça; vomitam palavras de que desconhecem os significados, promessas que não cumprem e não há qualquer preocupação com a gravidade e do peso do que falam. Pior é que em cada momento escuto e nada posso fazer, porque eles não têm desconfiômetro (honestidade) e arriscam a nossas vidas com seus discursos vazios. Para Helena Rotta de Camargo, “Quando a convivência /é uma merda repulsiva / não há diplomacia eficaz”.

Em desespero, temo pela nossa existência; recolhemos fragmentos dos sentidos ao respirar a fumaça do poder da maldade que resiste em nosso cotidiano.

Tenho medo quando recolhem nossas palavras e cortam nossas vidas; logo questiono, qual o valor do viver se não nos deixam ser, estar, decidir e participar? Júlio Perez retrata, “Eu /Quem sou eu?/ Posso perguntar? / Responder então...?/ Nem pensar”.

No compasso dos dias, meu pensamento e minha esperança se esvaí em cada golpe sem pé, nem cabeça. Contorço-me em acordes cortante e gritos calados. Embalo a tristeza pelas falsas promessas e mentiras. Vivo os escombros do mundo vazio e preconceituoso ao procurar contornar os “enganos”. Vago no limite para ouvir vozes e contemplar os dias incompletos, avessos à verdade, à ética e à moral. Esqueço os sonhos e habito paisagens discriminatórias e egoístas. Como demonstra Chico Alves d’ Maria, “Quantas rugas / quantas cicatrizes / o ego esconde... / Até onde? / Enquanto os espelhos / do umbigo não se quebram, / os olhos de vidro / cegam...”.