FLORES sem MISTÉRIO

Como te chamas pequena flor? Rosa, hortência, camélia? És simples e leve. Invades o jardim por onde passo. Floresces e te aprumas em noites de lua cheia. Muito me agrada a tua companhia, porque colores minha paisagem. Quer que te chames de violeta? Segundo Manoel de Barros, “Não sei de que cor é a cor do amaranto. / Mas pelo “amar” e pelo “canto” fica bem esse / amaranto aí (melhor do que se eu usasse / perpétua, que é o outro nome que se põe a essa flor). Amaranto murmura melhor”.

Gosto da tua presença ao sentir teu silêncio formoso, quando te avisto imersa em flagrantes perfumes. Sobre teu corpo, gotas de orvalho e tua imagem reflete a luz do meu dia. No caminho do meu jardim floresces, onde o vento gelado apaga o teu corpo.

Rodeada de flores sem mistérios, ouço palavras na voz do dia, que me consolam da memória refletida pelas horas do meu tempo, que ignoro, no silêncio das verdades. Nas palavras de Pedro Du Bois, “No miosótis a humildade do tempo em flor / a singeleza da corola / a simplicidade da pétala / a sinceridade da cor / a honestidade do nome / a pequena haste // não há aspereza / ou tristeza / e a solidão desabita / sua volta como ninhos / completados em vidas...”

Vejo a flor na chama do dia, como desejo de uma terra sem fronteiras, onde crescem girassóis. Como diz Manoel de Barros, “Os girassóis tem o dom de auroras”. Então, divago entre a memória e a lembrança do rosto que nunca esqueci; do espelho quebrado; do sonho desfeito; dos laços rompidos e das vozes que cantam: quem há de encontrar a flor sem mistério?

Entre as flores revelo a cor do segredo em sombras, como visão que se renova no meu ser; na flor sem mistério.