POESIA: resgate merecido
“Sem autoria e sem versos a poesia será encontrada na pedra /
no rosto / na copa das árvores ensimesmadas...” (Fernando Paixão)
Limito-me a resgatar a poesia, os poetas e seus livros, onde encontro páginas de construção de linguagem em processo artístico. A magia poética na expressão do momento que marca, profundamente, o leitor e o escritor e se entende até o final da vida. Carlos Drummond de Andrade disse que “a poesia é uma forma de conhecimento. A ser assim, parece viável, equiparar o poeta ao filósofo, pois ambos partem em busca da essência das coisas, dando-lhes uma explicação e um sentido”.
Faço o resgate merecido porque o público brasileiro não é consumidor de poesia; gênero que perde importância ante outros de mais fácil leitura. Lêdo Ivo demonstra, “Leitura de Poema // Eis o modo certo / de ler um poema: / com um olho fechado / e o outro aberto”.
O poeta, com sua inspiração, insere-se no poema e empresta a linguagem, a voz e a visão transformadora, para que venha a ser lido com prazer, como expressa Álvaro Pacheco, “Quanto tempo leva a Poesia / para descobrir sua única palavra? Quanto tempo / leva a terra para se cobrir de húmus e ter um esperma estéril?...”
Na poesia encontra-se a inesgotável riqueza do universo das significações sociais, afetivas e culturais. Para Ferreira Gullar, “O poema, ao ser feito, deve mudar alguma coisa, nem que seja o próprio poeta. É certo que o leitor, neste caso, está montado na experiência e nas aspirações do poeta”.
Quem quer viver sem inspiração? Ela permite contemplar a criação que, muitas vezes, traduzem em palavras sinais para compreender o mundo que nos cerca; renovar e transformar lágrimas em risos e a desilusão em esperança. Júlio Perez, no livro “Expresso instante”, revela a poesia como reflexão do mundo, “Se ver é existir / basta-me / a imaginar”. Ziza de Araújo Trein, na sua obra Vida e Poesia, de 1923, relata sua vivência, desde as mais ingênuas até as mais críticas, “Sol // Eu o odeio! (nem sei bem o termo exato) /A esse sol tão ardente e sobranceiro, / Que bem igual a um conquistador barato / Tem o fogo no olhar como braseiro...”.
A poesia transfigura a cor, a dor e ilumina o pensamento. A inspiração vence o tempo, caracteriza o poeta e o leva à plenitude na descoberta do mundo, onde exprime sua criação e oscila entre a totalidade dos sinais da vida e o fragmento do homem. Está ligada diretamente à literatura em perspectivas diferenciadas da nossa cultura. Reflete o espírito do poeta como expressão humanística. Neste sentido, resgatar a poesia é retomar as origens da linguagem e preservar os poetas com merecidos critérios. É importante no resgate da poesia a sensibilidade e o estilo do escritor, definindo que o conjunto representa jogos conceituais de palavras e ideias; imagens e símbolos; tudo com a pretensão de reconquistar os brasileiros para a leitura de obras poéticas, como sedução da vida. Encontro em Adélia Prado, no livro Poesia Reunida, o capítulo “Qualquer coisa é a casa da poesia”
O poeta que faz, cria, inventa, ousa e sugere, sem medo de expor seus sentimentos, leva o leitor a mergulhar na liberdade e desafiar qualquer fronteira, como demonstrado no livro Quando Nem Freud Explica, Tente a Poesia, “Seja qual for o caminho que eu escolher; / um poeta já passou por ele antes de mim”, escreveu Sigmund Freud. A poesia é resgate merecido! Ivan Junqueira pergunta, “... Que seria o poema: / uma voz que clama? / Ou a dor que algema?”