A MISSÃO DE SEMEAR

Percebo que à medida que o tempo vai deixando suas marcas e rugas de maturação no contexto da palavra poética, cada vez mais próximo está o Mistério (com sua voz rumando à finitude) e desconcerta nas esquinas o possível dom de antever e/ou reconhecer a Poética. Porém, ela pega o vivente espionando o sentido da vida e o recoloca como expectante condenado a refletir e a dizer do Belo que cutuca os neurônios. Neste milênio terceiro tudo é cada mais efêmero, volátil, fugaz, como o ar que respiramos. Peço te cuides, parceiro, que ainda teremos de replantar sementes e cuidar do viço da palavra, mesmo que a duras penas. Porque a voz do Absoluto tem várias moradas, como já se disse no decorrer dos tempos. A palavra é tal um caramujo: seu corpo visível se aninha debaixo da carapaça. Só ficam de fora as antenas da raça.

– Do livro inédito A VERTENTE INSENSATA, 2017/19.

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