A ESPERA
A espera é uma porta se fechando que, quando a abrimos novamente, temos a impressão de reprimir o riso e a euforia encontrados por existirmos.
Erro comum é pensar que a espera é ruim e que, no momento, o relógio não registra o tempo. É preciso saber como esperar para que não tenhamos gatilhos que nos levam ao nada feito e, até mesmo, aos pensamentos negativos. Para Gomercindo dos Reis, “... Sabes bem que ainda espero / Teus carinhos com fervor.../ Se me deres teu amor, / Eu também serei sincero!...”
Saber esperar depende do equilíbrio entre o desejo e a ansiedade; é necessário conhecer quem esperamos e tentar nos livrar dos preconceitos para não transgredir ao estabelecer um ritmo que venha a nos desanimar. Bom mesmo é investir na confiança para não ficarmos frustrados com a espera, como revela Gomercindo dos Reis, “como saber que eu te quero / magoaste meu coração; / Eu de ti mais nada espero, / Ingrata do Boqueirão...”
A expectativa da espera tem como ingredientes fundamentais a paciência e o desejo do encontro. Marcar um encontro traz ritmo suficiente para sacudir a rotina. Não é raro sermos surpreendidos pela espera, pois, criamos expectativas demais ao sonhar. Mas, outras vezes, surpreendemo-nos ouvindo Geraldo Vandré, “... esperar não é saber. Quem sabe faz a hora não espera acontecer...”
Quem melhor do que nós, que contamos o tempo, para medir se a espera é longa ou não? A vida se torna atraente quando esperamos para investir em momentos especiais ao perceber que no tempo somamos resultados e sentidos. Cada um tem a sua maneira de esperar a hora certa, para compreender as diferenças. Gomercindo dos Reis retrata, “... Louco de amor e mágoa torturante, / Espero seu regresso a todo instante / E rondo, na Avenida, a casa dela...”
Somos flexíveis quando decidimos unir a espera ao nosso próximo dia. Com o passar dos dias precisamos de sabedoria e serenidade, para entender a espera como esperança para os momentos de impasse. A questão não é ter ou renunciar à espera, mas tolerar para o bem maior. Gomercindo dos Reis expressa, “Na vida vamos sorrindo, / Neste mundo caminhando / Pela estrada além, além.../ Os velhos vão sucumbindo / E os moços, velhos ficando, / À espera do que não vem...”
Não existe regra para a espera; porém, sabemos que podemos melhorar a nossa satisfação se não compararmos as performances que nos liberam para a verdade. Às vezes, passar o tempo esperando é procurar e revelar o nosso projeto de vida. Como declara Gomercindo dos Reis, “Meu amor, minha querida, / Dia e noite eu penso em ti; / Mas espero te ver de novo / Teus carinhos que perdi! // Eu espero, ó minha amada, / Que saberás me perdoar, / Fui ingrato e não te amei / Como deveria te amar!...”
Precisamos ser realistas ao nos dispor a esperar, não pela resistência ao tempo e sim pelo envolvimento em boa causa: provocar um suspiro na rotina.