A impunidade do rei
O monarca judeu Davi, filho de Jessé, governou o antigo Estado de Israel por 40 anos. Na condição de rei, exercia as funções de Executivo e Judiciário.
Em desobediência aos deveres de um rei, contido no livro de Deuteronômio (Deut 17.7), o monarca tomou para si várias esposas e concubinas, e assim seu coração se corrompeu.
Absalão foi o terceiro filho de Davi com Maacá, filha do amorreu Talmai, rei de Gesur, uma região situada na Transjordânia (II Sam 3.3). Sua irmã se chamava Tamar.
Amnon foi o primeiro filho de Davi. A senhora sua mãe era Ainoã, a jizreelita (II Sam 3.2).
Numa certa ocasião, Amnon, o filho playboy, aquele que em potencial herdaria o trono de seu pai, se engraçou de sua meia-irmã, Tamar, uma jovem virgem e muito bonita, e a estuprou (II Sam 13.1-19),
cometendo incesto, ato sexual duramente condenado pelo Livro Sagrado (Lev 18.11). Além de tomá-la como prostituta, recusou casar-se com ela, o que ainda mais agravou o crime que cometeu.
Ao tomar conhecimento do ato abominável, seu irmão Absalão a consolou, mas guardou no coração todo o ódio.
Como o rei seu pai, que além de monarca era juiz, não tratou seu meio-irmão com os rigores da lei, e assim acobertou o crime cometido pelo filho embonecado, Absalão tomou a iniciativa de assumir a função de juiz, e penalizar duramente o criminoso.
Ao cabo de dois anos, Absalão promoveu uma grande festança na região de Baal-Hazor, em comemoração à tosquia de suas ovelhas, e o rei, seu pai, autoridades e, em especial seu meio-irmão Amnom foi convidado para os festejos.
Quando todos haviam ingerido rodadas de abundante vinho, Absalão deu o sinal combinado, e um seu agente apunhalou Amnom, dando-lhe cabo da vida. A dívida havia sido cobrada, e a preço de sangue (II Sam 13.23-29).
Quando o rei, seu pai, se tornou omisso, Absalão assumiu o cargo de juiz, e a sentença foi executada.
Um dos filhos do presidente Bolsonaro, segundo meios de comunicação, tem sido denunciado de haver cometido atos financeiros não republicanos.
Pelo andar da carruagem, tudo jaz no mais absoluto silêncio; aliás, num silêncio sepulcral, e nada, até presente momento, tem sido apurado por autoridades.
E a pergunta que se recusa calar começa a falar: como ficará a questão? Na mais silenciosa omissão?
Raimundo Nonato Freitas de Cerqueira
Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, 15 de outubro de 2019.