O príncipe dos poetas brasileiros: Olavo Bilac

Deixa que o olhar do mundo enfim devasse

Teu grande amor que e teu maior segredo!

Que terias perdido, se, mais cedo,

Todo o afeto que sentes se mostrasse?

Basta de enganos! Mostra-me sem medo

Aos homens, afrontando-os face a face:

Quero que os homens todos, quando eu passe,

Invejosos, apontem-me com o dedo.

Olha: não posso mais! Ando tão cheio

Deste amor, que minh'alma se consome

De te exaltar aos olhos do universo.

Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio:

E, fatigado de calar teu nome,

Quase o revelo no final de um verso.

O soneto acima foi escrito por Olavo Bilac, um dos mais renomado poeta brasileiro; além de poeta foi jornalista, crítico, inspetor escolar e ativo boêmio. Sua obra é vasta e direcionou-se desde o público infantojuvenil ao adulto. Propôs-se como jornalista escrever críticas políticas, algumas vestem bem a atualidade:

“Regeneremo-nos, e voltemos ao culto cívico. Amemos o Brasil, nós que o dirigimos. E, aperfeiçoados, vamos ao encontro do povo, e aperfeiçoemo-lo. O povo possui energias e virtudes, mais fortes e mais puras do que as nossas: o que cumpre é estimulá-las, é extraí-las, como se extraem os metais da ganga nativa”.

Algumas análises políticas resultaram numa prisão durante a presidência de Floriano Peixoto, o Marechal de Ferro. O patriotismo de Bilac era fulgente em sua atuação política, no que se tornou um dos fundadores da Liga da Defesa Nacional, que evocava o militarismo, destarte, volveu-se o Patrono do Serviço Militar; ademais, ao lado de José do Patrocínio militou pela abolição da escravatura, também queda-se na biografia do poeta a composição do Hino à Bandeira Nacional.

Direcionando-se às crianças, Olavo transmitia valores ufanista tais como o amor à pátria, a importância da obediência, e, sobretudo, normas de conduta e comportamento. O autor recheou seus textos de abrasadora sátira ou erotismo; a poesia de Bilac possuía, nas palavras de Manuel Bandeira: sensualidade à flor da pele.

Bilac, influenciado pela escola Parnasiana que conheceu em sua viagem a França, revelou-se defensor da forma, da métrica, da Língua Portuguesa, da linguagem clássica, refinada e rebuscada; valorizou a cultura clássica, a poesia lógica e complexa. Propôs uma literatura objetiva, descritiva, oposta ao movimento Romântico que ainda predominava no Brasil. Seus sonetos são de uma produção ímpar e abissal, seu trabalho é glorioso, o título de príncipe dos poetas brasileiros que galgou ainda em vida, no ano de 1907, é-lhe devido, mais que merecido.

Quando cantas, minh'alma desprezando

O invólucro do corpo, ascende às belas

Altas esferas de ouro, e, acima delas,

Ouve arcanjos as citaras pulsando.

Corre os países longes, que revelas

Ao som divino do teu canto: e, quando

Baixas a voz, ela também, chorando,

Desce, entre os claros grupos das estrelas.

E expira a tua voz. Do paraíso,

A que subira ouvindo-te, caído,

Fico a fitar-te pálido, indeciso...

E enquanto cismas, sorridente e casta,

A teus pés, como um pássaro ferido,

Toda a minh'alma trêmula se arrasta...

Com a Ascensão do Movimento Modernista, Olavo Bilac foi e não poucas vezes ainda o é, injustiçado pela crítica; não obstante, sua raiz justifica-se por posicionamento ideológico. A postura de Bilac afastou-o dos holofotes literários e culminou num vácuo desmedido na história da literatura brasileira. Os modernistas emergiram uma produção sem apreço à analogia do ourives, como defendia o parnasiano.

[...]

Invejo o ourives quando escrevo:

Imito o amor

Com que ele, em ouro, o alto relevo

Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara

A pedra firo:

O alvo cristal, a pedra rara,

O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,

Sobre o papel

A pena, como em prata firme

Corre o cinzel.

[...]

As primeiras publicações datam da década de 1880 quando ao lado de grandes nomes como o de Machado de Assis, Alberto de Oliveira, Coelho Neto, Raimundo Correia e Aluísio Azevedo, passou a escrever para “A Semana”. O primeiro livro, Poesias, foi publicado em 1888; daí por diante escreveu dezenas de livros; foram poesias, contos e até romance; também escreveu o Tratado de Versificação, em 1905, mas antes disso, reunido a outros grandes nomes da literatura nacional fundou a Academia Brasileira de Letras, em 1897, na qual ocupou a cadeira número 15 e elegeu como patrono Gonçalves Dias. Faleceu em 1918.

Primavera

Ah! quem nos dera que isto, como outrora,

Inda nos comovesse! Ah! quem nos dera

Que inda juntos pudéssemos agora

Ver o desabrochar da primavera!

Saíamos com os pássaros e a aurora.

E, no chão, sobre os troncos cheios de hera,

Sentavas-te sorrindo, de hora em hora:

"Beijemo-nos! amemo-nos! espera!"

E esse corpo de rosa recendia,

E aos meus beijos de fogo palpitava,

Alquebrado de amor e de cansaço.

A alma da terra gorjeava e ria...

Nascia a primavera... E eu te levava,

Primavera de carne, pelo braço!