O FANTASMA DA ÓPERA – UM MITO (06)
            Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.
            Temos o visconde Raoul de Chagny. Esse visconde, é uma coisa curiosa, as referências são muito precisas, porque ele tem relação com o passado de Christine, ele a conheceu quando o pai ainda era vivo, os dois crianças, então ele a puxa para o passado. Ela está precisando caminhar para o futuro e em direção à sua essência, e ele o tempo todo chama memórias, chama ela para o passado, ou seja, desvia da sua meta de autoconhecimento e ao mesmo temo ele é o patrocinador do espetáculo que se passa no palco. Então, digamos que Christine não estaria disposta a permanecer numa vida banal, só pela vaidade, que tem vários atores muito vaidosos, só pela competência, porque tem muitos funcionários e atores competentes, mas tem um ponto que ela não tinha anunciado ainda, que era a paixão por uma forma de vida que lhe parece segura. Eric é mistério e ela tem medo dos mistérios. Então, nenhum personagem que está no palco seria suficiente para manter o palco, seria suficiente para prender Christine, porque ela é a grande protagonista do espetáculo. Raoul, que é o patrocinador do espetáculo, é o único que tem poder para prendê-la. E por isso ele é o patrocinador. Se não fosse por ele, aquele palco desmoronaria, porque Christine que é a personalidade que estava vivendo aquele drama, iria embora. Ele mantém ela motivada por algo, uma paixão por um território seguro do seu passado, aos pés do seu pai, uma situação conhecida. Ele mantém Christine assustada em relação ao mistério, hesitante em relação ao avanço, e ele consegue sucesso. Ele consegue prendê-la ao mundo banal, ele patrocina o palco e consegue manter o palco. Cumpre perfeitamente o seu papel.
            Para mim, dentro dos relacionamentos onde tenho o papel de Eric, do Fantasma da Ópera, do ser deformado, o visconde Raoul é representado pela própria cultura. A mulher que eu amo e que procuro passar para ela toda a profundidade do meu amor, uma forma de relacionamento de amor inclusivo capaz de transformar uma família de características nucleares para uma família de características universais, capaz de construir o Reino de Deus, como Jesus tão bem nos ensinou.
            Mas, essa mulher, mesmo que sinta a profundidade do que eu sinto, fica assustada com o mistério que isso representa, com o desvio dos padrões culturais que está ali ao seu lado, cobrando uma coerência do seu comportamento com o que foi ensinado pelos pais, pela escola, pela igreja.
            Então, essa mulher, termina capitulando e fica ao lado da segurança que o status quo parece garantir para ela e abandona o mistério que poderia leva-la a profundidade do seu ser.