POESIA: RAIZ E FLOR DA FRATERNIDADE

“O poder da oração nada mais é do que a própria Poesia

revestida de atitudes de mudança no plano da realidade.”.

...Tenho muito respeito pelo seu ponto de vista. Entretanto, não posso furtar-me de manifestar o meu. Entendo que o fato de ser poeta não significa ser surdo-mudo ou incapacitado de agir e pensar. O que é tipicamente social e o que é tipicamente político se mesclam. Não há como separá-los embora sejam, em valores, universos de duas esferas distintas. A liberdade e a igualdade podem ser controladas até certo ponto pela ordem política, mas para que esse exercício seja efetivo, exige-se uma condição primeira, que só pode vir da ordem social, ou seja, das virtudes humanas que precedem essencialmente ao plano do relacionamento político. E esta ordem social se estrutura pelo conjunto de valores éticos que configuram a consciência de uma sociedade. E aí é que entra a Fraternidade. Ela é a palavra mágica que estabelece o vínculo que une os olhares e as ações e que tem o poder do milagre. É através da solidariedade, do colocar-se no lugar do outro, do estender-lhe a mão e do agir em sua defesa, que o mundo poderá mudar. Para isso, o indivíduo pode ser ou não um poeta, porque o mais importante é ser essencialmente um ser humano que compartilhe e que faça diferença no mundo, transformando o outro com o seu amor. Ousadia não é coragem e a violência não é a força. Cristo foi o maior sábio e poeta de todos os tempos. Deixou-se crucificar e não mudou os homens, apontou-lhes a espiritualidade e lhes ofereceu ânimo para a resistência. O poder da oração nada mais é do que a própria Poesia revestida de atitudes de mudança no plano da realidade. Os poetas, através da palavra se fazem ouvir. Em seu grito de liberdade eles não dividem, mas harmonizam; não colidem, mas unificam; não se contrapõem, mas ordenam; não rejeitam, mas respeitam; não hostilizam, e sim, acolhem e pacificam. Atentemos para Sigmund Freud, o pai da psicanálise, que há mais de 100 anos já dizia: “Os poetas e os romancistas são aliados preciosos, e o seu testemunho merece a mais alta consideração, porque eles conhecem, entre o céu e a terra, muitas coisas que a nossa sabedoria escolar nem sequer sonha ainda. São, no conhecimento da alma, nossos mestres, que somos homens vulgares, pois bebem de fontes que não se tornaram ainda acessíveis à ciência”. Vai um abraço daqui do extremo sul do Brasil e, mais ainda, para que continuemos a refletir, o pensamento universal de Fernando Pessoa, poeta lusitano que registra: “A arte é a auto-expressão lutando para ser absoluta.”. Pelotas, RS, 11 de julho de 2014. Neusa Marilu Perez Duarte.

– material literário colhido no Facebook por JM, em 11Jul2019.

– Do livro inédito O IMORTAL ALÉM DA PALAVRA, 2013/19, coautoria de Joaquim Moncks/ Marilú Duarte.

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