"DESCOBRIMENTO" DO BRASIL: PLANEJADO OU CASUAL? - CONSIDERAÇÕES
As considerações a que chegamos sobre a questão proposta (“Descobrimento” do Brasil: Planejados ou Casual?) são de que o “Descobrimento” não foi Casual, ou seja, não foi em razão de calmarias - falta de ventos, ou tempestades, ou ainda, revoltas ou motins proporcionados pela tripulação descontente.
Acreditamos ter sido um “evento” Planejado, isto é, com o desvio de rota ordenado (na altura de Cabo Verde) – são as ditas ordens secretas, que foram entregues a Pedro Álvares Cabral (comandante da esquadra) pelo rei de Portugal (D. Manuel I, o Venturoso).
Estes fatores, nos fazem perceber a dinâmica da sociedade (marítimo- portuguesa), ou seja, aqueles valorosos portugueses, aquele povo-aventureiro, de alguma maneira que ainda não tenha sido objeto de estudo e pesquisas dos historiadores; tinham conhecimentos da existência de terras além do Mar Tenebroso (Oceano Atlântico) e que precisavam ser “descobertas” e colonizadas em proveito da Coroa portuguesa.
Temos também, para defender as ideias expostas neste artigo, um conjunto de outros fatores que viabilizam a comprovação do assunto em questão, isto é, sobre o qual estamos escrevendo, ou seja, fatores extras ao que vem no cerne do artigo, porém, relacionados (diretamente) com a questão principal, ou seja, os diversos fatores históricos que engrandecem e mostram a beleza da odisseia do povo português.
São os seguintes “fatos históricos” enumerados abaixo:
1. O lema da sociedade portuguesa na época: Navegar é preciso, viver não é preciso. Motivacional para os Atos de Navegação e “descobertas”. Implícito no DNA do povo português.
2. O mito da fundação da Escola de Sagres (1443) pelo Infante D. Henrique - para funcionar como centro coordenador e executor das futuras expedições - mostrando a crença no lema daquela sociedade (Navegar é preciso, viver não é preciso.) e a vontade férrea daquele povo heroico;
3. A “Descoberta” de um novo continente (América ou segundo o navegador florentino Américo Vespúcio -1454/1512-, Novo Mundo) pelo navegador genovês Cristóvão Colombo (12 de outubro de 1492), a serviço dos reis católicos (Fernando de Aragão e Isabel de Castela) da Espanha;
4. A Bula – decreto do papa – Inter Coetera (1493), emitida pelo (espanhol) Alexandre VI (1431-1503) dividindo o mundo “americano” entre os reinos de Espanha e Portugal e, também, o intuito de impedir uma guerra entre as nações citadas pelo domínio do “território” além-mar; lembrando ainda, que o documento especificava a questão da existência de terras 100 léguas a Oeste de Cabo Verde, no Oceano Atlântico.
5. O Tratado de Tordesilhas (1494) idealizado e assinado pelo rei de Portugal (D. João II) e os reis católicos da Espanha (Fernando de Aragão e Isabel de Castela), depois de finalizada a questão da Reconquista (Guerra contra os mouros para reconquistar o território de Granada), e que previa a existência de terras a 370 léguas a Oeste de Cabo Verde e, pelo Tratado pertenceriam à Espanha, e as que ficavam a Leste, seriam pertencentes a Portugal.
O Tratado, juntamente com o decreto papal de 1493 – Bula Inter Coetera, que estabelecia a existência de terras 100 léguas a Oeste de Cabo Verde – são as peças fundamentais para o crédito e raciocínio de nossas ideias e, também, deste pequeno artigo; uma vez que após o mito da Escola de Sagres (1443), ou seja, a possibilidade de criação de uma Escola de Navegação, para funcionar como centro coordenador e executor das futuras expedições; implica diretamente na crença, divulgação e aceitação por parte de toda a sociedade portuguesa da época do lema de vida (“Navegar é preciso, viver não é preciso.”), demonstrando como funcionava a vontade férrea, ou seja, a construção dos objetivos e para onde estava direcionada a energia, as esperanças e o patriotismo do povo português.
6. A viagem (1498) do “herói esquecido” Duarte Pacheco Pereira (1460-1533), possível “descobridor” do Brasil.
7. A Carta de Pero Vaz de Caminha (1451-1500) enviada ao rei de Portugal D. Manuel I (o Venturoso) comunicando, mesmo sem demonstrar surpresas, o encontro das terras.
8. A Carta de Mestre João Faras, médico do rei D. Manuel I, também sem demonstrar surpresas.
E, mesmo com o aparecimento do fator Cristóvão Colombo (1492), ou seja, a “descoberta” de um novo continente (América), fato observado pelo navegador florentino Américo Vespúcio, a sociedade portuguesa da época não esmoreceu, continuou cultivando, desenvolvendo em seu cerne a ideia (fixa), estando assim, presente no dia-a- dia daquelas pessoas, o fator de que havia (“outras”) terras além-mar (podemos perceber, com clareza, este viés devido à insistência em relação à assinatura da Bula Inter Coetera, em 1493, mediada pelo papa (espanhol) Alexandre VI (1431-1503) e, num curto espaço temporal, ou seja, somente um ano depois; a confirmação das “suspeitas”, a assinatura do Tratado de Tordesilhas (1494).
É possível que, essas pessoas – devemos entender aqui, a sociedade portuguesa como um conjunto, com a soma de todos os seus valores: políticos, culturais, históricos, econômicos e religiosos (Catolicismo – Companhia de Jesus os Jesuítas); suas perspectivas, seus deslumbramentos (A possibilidade de tornarem-se senhores do Oceano Atlântico, que fora, por muito tempo, considerado o Mar Tenebrosos) e suas mazelas sociais - que são os males de toda sociedade: violência, crime, desemprego, injusta divisão de rendas entre outras - tivessem acesso à informações que não foram captadas pela História, que não tiveram os devidos registros e recolhimentos, que ficaram esquecidas no tempo ou guardadas em algum “arquivo” desaparecido – nas “gavetas” das “bibliotecas” da Torre do Tombo – Arquivo Nacional criado em 1378 – (<http://antt.dglab.gov.pt/>) e procuraram garantir, para as gerações futuras, a posse destas terras através, primeiramente, de uma Bula (garantindo as terras 100 léguas a oeste de Cabo Verde - 1493) e, depois, através de um Tratado (garantindo as terras 370 léguas a oeste de Cabo Verde - 1494), promovendo assim a “descoberta”, posse, guarda, manutenção, exploração e colonização do “seu” quinhão ao continente; e, infelizmente para o aventureiro Cristóvão e por um grosseiro erro de interpretação histórica, as terras, até então desconhecidas, acabaram denominadas de América (de acordo com a interpretação do navegador florentino Américo Vespúcio – 1451-1507, que foi o primeiro a perceber a grandeza da façanha de Colombo, ou seja, o navegador genovês havia atingido um continente, até então desconhecido e, por isso, Novo Mundo).
In.: SÊNIOR, Augusto de. "DESCOBRIMENTO" DO BRASIL: PLANEJADO OU CASUAL? SP: Clube de Autores/Agbook, 2019. pp. 45 a 48.