ANÁLISE LITERÁRIA - POEMA: NAVEGAR É PRECISO, VIVER NÃO É PRECISO - DE FERNANDO PESSOA
Navegar é preciso, viver não é preciso
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
“Navegar é preciso; viver não é preciso”.
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça. (Fernando Pessoa)
ANÁLISE LITERÁRIA
A prova de que o lema da sociedade marítimo-mercantil portuguesa com base na frase-título do poema é antigo:
- Navegadores antigos...
Quer o poeta buscar para si o espírito da frase e aplicá-lo em sua vida, ou seja, navegar é preciso, e navegar é mais importante do que viver, então: o poeta, em simetria, quer criar.
Criar, para o Poeta...
É mais importante do que viver...
Então, quer o poeta criar, antes de viver...
O poeta não quer viver ou gozar a vida, Ele quer torná-la grande, mesmo que para isso, ocorra a perda do seu corpo e sua alma...
Só quer tornar sua vida conhecida e que toda Humanidade tenha uma vida plena, preciosa, com a realização de suas metas e motivos para vivê-la...
O poeta insiste..., quer tornar a pátria grande também...
E por isso, o poeta é coerente com o misticismo de sua raça...
In.: SÊNIOR, Augusto de. "DESCOBRIMENTO" DO BRASIL: PLANEJADO OU CASUAL? SP: Clube de Autores/Agbook, 2019. p. 85.