O ALTER EGO: ELE-MESMO-O-OUTRO
O ego não é capaz de se comunicar em linguagem poética, somente o alter ego, aquele que se não impõe limites nem se restringe quanto à terminologia de sua fala, construção gramatical e disposição inicial dos versos. Estes registros afloram, em algumas vezes, insanos ou inusitados, sempre tomados de emoção, como quem chega dos territórios do Inconsciente ou dos campos do Nada, tomado de surpresa e inquietações. O senhor alter ego – mercê de sua natural codificação de linguagem – tem uma sinceridade de propósitos e uma franqueza que nos deixa muitas vezes boquiabertos, e nos faz cair de joelhos, mãos postas, impotentes frente ao Absoluto. Talvez a impotência de ser ele-mesmo e por falar sem pensar o que sente. Aquilo que Fernando Pessoa firmou para a posteridade ao resignar-se psicologicamente com o seu variegado alter ego, e se consorciar com ele, ao assinar a peça poética, numa profunda e intimista ressignificação, como é da natureza da Poética. Por esta atribui novo significado a acontecimentos através da mudança de sua visão de mundo. No caso, é ele – dentre todos os outros – o seu heterônimo predominante: Fernando-Pessoa-ele-mesmo-o-Outro,
– Do livro inédito OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02; 2015/19.
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