A PEÇA ESTÉTICA, EM POESIA
O poema sempre carece de profundidade metafórica, de modo a que se possa migrar da linguagem em sentido denotativo para a conotação. O emprego da metáfora nos versos leva a uma codificação, evitando-se o derramamento verbal ou a clareza do assunto enfocado no poema. Porque a Poesia é necessariamente fruto da figuração de linguagem. Filio-me à escola francesa, à sua riqueza e elegância, com forte atuação das figuras de linguagem, especialmente a metáfora. Esta consiste na subversão do sentido original ou genuíno da palavra, daí advindo novo entendimento, com a ampliação do universo ficcional, de modo a que a colheita de imagens produza variegadas sensações ou estados de reflexão, porque Poesia é “a lucidez enternecida”, no sentir do mestre Armindo Trevisan. A imagética também faz parte da axiologia que leva à codificação de linguagem, especialmente na atual contemporaneidade formal dos versos (com Poesia), em que a síntese verbal é o elemento de aceitação mais próximo e/ou de mais fácil assimilação pelo poeta-leitor. Na maioria dos versos de autores (iniciantes ou não), primordialmente no universo lírico-amoroso, devido à falta de metáfora(s) no texto, não se caracterizam como exemplares em Poesia, fixando-se na Prosa, que é a linguagem do cotidiano. E convém reiterar, em regra dando-se a ela apenas o sentido denotativo. A maioria dos poemas que aparecem nas postagens, a exemplo do que acontece no Whats App ou no Facebook, não chegam nem à prosa poética (um gênero híbrido) ou ao poema em prosa (ou prosaico), devido à superficialidade de tema e/ou conteúdo, geralmente pela ausência da expressão metafórica polivalente, vertical ou profunda, chegando, no máximo, à utilização da metáfora monovalente, rasa ou superficial. Em regra, nos escaninhos da virtualidade temos a constatação da lavratura de bilhetes amorosos ou recadinhos de amor bilaterais – o eu e tu – meramente interessáveis aos generosos obreiros do amor, os quais não consistem em e nem corporificam versos capazes de conter o gênero literário Poesia. Bem, fico por aqui, na determinada intenção de instigar à construção do poema com expressiva codificação linguística, de modo a que as ideias contidas nos versos levem e/ou conduzam ou, ainda, peguem de jeito o poeta-leitor – através dos signos contidos na sugestão verbal – e este agente, ao contato afetivo e emocional (em sua interação psíquica com a sugestão verbal que o poema contém), venha a recriá-lo, agora acrescido de inúmeros elementos subjacentes à sua individualidade, de modo a que ele se aposse ou aproprie-se do conteúdo imagético como se fora uma peça verbal escrita por ele-mesmo. O leitor, ao consumir a peça poética, pensa que ela é sua, ou seja, no mínimo, imagina-se coautor dela. Também é necessário ter-se em conta de que sem os atos de leitura, de áudio e/ou expressão visual, os quais cabem ao poeta-leitor, o poema é reles matéria sem vida. O sopro do viver se dá através do polo receptor. No entanto, o que eu queria mesmo é que soubessem que muito me agrada a tarefa de analisar textos, mormente os que contém a poética no seu ventre gestacional. Como analista crítico, procuro agir assentado no conceitual que objetiva o aprimoramento formal dos versos contidos no poema. Sempre de modo a que se consiga imprimir no receptor uma razoável e positiva impressão estética. Enfim, me agrada tudo aquilo que propicie a natural troca de ideias – uma via de duas mãos – aquela que possibilite a captação do Novo como elemento estético.
– Do livro inédito OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02; 2015/19.
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