Restauração Maçônica

Nós, maçons mais antigos em especial os da GLMMG, fomos acostumados nas atividades ritualísticas, como as falas, e demais atividades, fazê-las em pé. Com o passar dos anos, essa prática foi abolida passando a fazer sentado, como o fazem outros Orientes. A modernidade, mais praticidade, a maioria é assim?

Achei estranho e menos ritualístico (ou não tão empolgante), bem como também do direito de a diretoria se expressar sentada. A meu ver, a fala em pé torna-se mais eloquente e respeitosa e, além do mais, a fala fica vibrante ao abrirmos mais o diafragma, a voz soa mais.

Quanto à quantidade de irmãos na loja, o total de lojas, a diminuição da frequência e os trajes são fatores fundamentais. E, na minha ótica, não deveria haver mudança ou se afrouxar a guarda, permitindo outros trajes.

Acredito que o irmão deva levar seu traje e trocá-lo na própria loja, naqueles casos de irmãos com excesso de atividade, ex. médicos, entre outros.

As reuniões devem ser mais objetivas, com melhor seleção de candidatos. Pois há o ditado de que batata podre no saco apodrece as demais.

Se envolver mais em assuntos de mais relevantes, no sentido de aumentar a felicidade humana, como fizera nossos irmãos antepassados e hoje temos um prato cheio que é o combate á corrupção...

Nota-se hoje estamos mais para sombra e água fresca, ha apatia em envolver com politicas, principalmente a mais pura a bem da humanidade... Talvez delineando o próprio regulamento.

Valoroso Irmão, hoje já no Oriente Eterna bradava, a Maçonaria não foi feita para doar cobertores sape negrinho, e sim promover ações, para que estes não necessitem deles...

A SEGUIR texto do Irmão Kennio Ismael. Editado na Revista Consciência, edição 137 de 2018, como segue:

“Já dizia o ditado: “a grama do vizinho é sempre mais verde”. Na Maçonaria não é diferente. O que alguns brasileiros maçons gostariam de mudar na Maçonaria daqui. É exatamente o que alguns maçons norte-americanos gostariam de adotar lá.

Existe uma parcela significativa de maçons brasileiros que questiona o modelo “tupiniquim” da Arte Real, indicando que é um modelo antiquado, que segue a direção contrária do caminho trilhado pela sociedade contemporânea. Esse grupo, discreto e não organizado, porém constante e crescente, costuma apontar como pontos negativos na Maçonaria Brasileira, entre outros:

- A formalidade e restrições do traje maçônico: quase todas as Lojas tem funcionamento na noite dos dias úteis, o que obriga o maçom a, muitas vezes, ir direto do seu trabalho para a Loja. A obrigatoriedade do terno preto com camisa branca e gravata preta (ou outra cor conforme o rito) acaba por atrapalhar a rotina de muitos membros, principalmente aqueles que não adotam traje social em seus locais de trabalho ou utilizam uniformes em suas profissões. Muitas vezes, um maçom deixa de realizar visitas espontâneas a outras Lojas por conta da vestimenta não adequada.

- As reuniões semanais e a exigência da presença: para eles, reuniões semanais são um excesso na sociedade em que vivemos, em que um maçom geralmente tem várias outras atividades e compromissos sociais, profissionais, educacionais, intelectuais, religiosos, políticos, filantrópicos e familiares a atender. Por isso, defendem uma periodicidade quinzenal ou mensal. Além disso, a obrigatoriedade de presença mínima com punição prevista por descumprimento acaba por afastar muitos maçons voluntária ou involuntariamente. Às vezes, se perde valorosos membros que, por serem muito atuantes na sociedade, não conseguem se fizer presentes em Loja o quanto se exige.

- Os poucos membros iniciados: enquanto muitos membros abandonam a Maçonaria por conta dos mais diversos fatores, as Lojas têm feito cada vez menos iniciações e de menos candidatos, o que tem esvaziado os templos e desmotivado ainda mais os maçons remanescentes. Vê-se, então, um verdadeiro “déficit maçônico”. Isso enfraquece a Maçonaria e a torna mais velha e, muitas vezes, retrógrada.

- A cultura de Lojas pequenas: quando uma Loja no Brasil consegue romper a barreira da inércia e crescer, muitos Irmãos começam a defender a criação de uma Loja nova com parte de seus membros, até com a desculpa de evitar disputas eleitorais e de fazer a Maçonaria crescer (pelo menos em número de Lojas). Já os críticos acreditam que, quanto maior uma Loja for, melhor ela será. Uma Loja com muitos membros tem mais condições financeiras para filantropia, pode exercer maior “barganha social” junto às autoridades locais e enfrenta menos dificuldades de funcionamento.

Com tais argumentos, esses maçons defendem uma mudança na Maçonaria Brasileira de forma a torna-la mais flexível com os critérios de vestimenta, periodicidade, presença e seleção de membros. Uma Maçonaria maior e menos rigorosa, mais “adequada” aos dias atuais.

Em contrapartida, um grupo de maçons norte-americanos pensa exatamente o contrário. Vivendo uma Maçonaria nos moldes da desejada pelos seus antagônicos brasileiros, sem rigidez na vestimenta e com reuniões quinzenais ou mensais em Lojas que possuam centenas de membros, mas que contam com presença de apenas uma dúzia por sessão, eles desejam mudanças.

Em 2001, eles criaram nos Estados Unidos a Fundação da Restauração Maçônica, com o objetivo de promover o que eles chamam de “Observância Tradicional”, que é exatamente a implementação em Lojas Regulares das características encontradas na Maçonaria Latino-Americana, como: vestimenta social uniforme; Câmara das Reflexões; iniciação de um candidato por vez; Lojas pequenas e com foco na instrução de seus membros. As Lojas continuam filiadas à Grande Loja Estadual e trabalhando no Rito de York (Monitor de Webb), apenas adotando algumas mudanças em seu ‘modus operandi’.

Apesar de 10 anos de existência, o movimento americano tem apresentado pouco desenvolvimento; até agora, apenas cerca de 30 Lojas em todo o País adotaram o modelo sugerido. Para se ter uma ideia, o Real Arco, um ilustre representante do modelo maçônico norte-americano em terras brasileiras, cresceu quase três vezes mais nesse mesmo período, e nossa Maçonaria corresponde a apenas 1/7 do tamanho da Maçonaria dos Estados Unidos.

De qualquer forma, é importante destacar que os pontos em questão são, em geral, de cunho administrativo, e independente se rígidos ou flexíveis, nada impactam no Rito praticado, na qualidade ritualística, no respeito aos Landmarks, ou mesmo na filiação à Obediência. Como prova disso, pode-se observar no país norte-americano, onde há uma maior flexibilidade administrativa e menor quantidade de reuniões, os Oficiais das Lojas exercem suas funções ritualísticas de memória e as regras de conduta são muito mais rígidas. Enfim, não há modelo melhor ou pior. A questão é, na verdade, sociocultural. E, sendo sociocultural, é, sim, mutável.

Nesse contexto, cada Loja deveria ter a liberdade e soberania para funcionar como acreditar ser melhor, e mudar quando achar conveniente. Porque, na verdade, não importa se é uma Loja de 10 ou 100 membros, se tem reuniões toda semana ou uma vez por mês, se inicia 1 ou 100 candidatos por ano, se os membros usam jeans ou smoking. O que importa é se é uma Loja Justa e Perfeita, onde se ensina ao homem livre e de bons costumes a ser um maçom, um construtor de uma sociedade melhor e mais feliz. O conhecimento, a excelência ritualística e a preservação das tradições maçônicas não dependem da roupa que se veste, da quantidade de irmãos e de reuniões ou do tamanho da Loja. Depende, apenas, do trabalho sobre a pedra bruta que somos.

De tudo isso, tira-se uma importante lição para a Maçonaria Brasileira: as Obediências deveriam se preocupar menos com a regulamentação do funcionamento das Lojas e mais com a produção de material de estudo de qualidade para as mesmas, enquanto que os maçons deveriam se preocupar menos com a cor da camisa do outro e mais com o conteúdo das reuniões.

Antes de procurar mudar “como” a Maçonaria funciona, deve-se procurar compreender “o que é” a Maçonaria e “porque” ela existe. Então talvez optemos pela “restauração”, mas não de fora, e sim dos valores”.

Josepedroso
Enviado por Josepedroso em 13/05/2019
Reeditado em 23/03/2021
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