Guerra da Independência parte 03

Deserto do Neguev

Durante o Mandato Britânico, os judeus ficaram proibidos de estabelecer kibbutz no Deserto do Neguev, devido restrições impostas pelo Livro Branco.

Essa região hostil foi palco de muitos combates armados. A partir de bases na Península do Sinai, o numeroso Exército do Egito atravessou a Faixa de Gaza com carros blindados, tanques, artilharia pesada e aviões de combate. Era o mais fino produto de uma tecnologia de ponta, e tinha o objetivo de chegar a Tel-Aviv. Assim, tropas egípcias se deslocaram pela antiga Estrada da Costa ou “caminho dos filisteus”, que liga o Egito ao Líbano. O presidente egípcio, coronel Gamal Abdel Nasser, estava confiado que, ao tomar conhecimento que o numeroso e poderoso Exército Egípcio encontrava-se em marcha com destino a Tel-Aviv, os judeus iriam fugir em debandada.

Cerca de quatro anos antes, por ordens do Mufti Husseini, uma unidade de comando árabe-nazista foi lançada de paraquedas para envenenar poços de águas do entorno de Tel-Aviv: “Levantem-se, ó filhos da Arábia. Lutem pelos seus sagrados direitos. Matem os judeus onde os encontrarem. O seu sangue derramado agrada a Alá, à nossa história e religião”.

Mas as tropas de Nasser foram recebidas a fogo por colonos judeus de kibbutz instalados ao longo da região litorânea. Isso fez o estado-maior egípcio parar para reexaminar a situação indesejada, pois, não era um simples desfile militar, como inicialmente se pensava. Havia um preço a ser pago. Vários ataques aéreos egípcios foram efetuados contra alvos na capital judaica. Até esse momento, o Estado de Israel não possuía uma Força Aérea. A imprensa do mundo árabe passou a difundir notícias de que a capital provisória havia sido completamente arrasada pela ação do bombardeio egípcio. Mas, tão logo Israel colocou sua Força Aérea em funcionamento, a maré começou a baixar.

Após a Assembleia das Nações Unidas haver votado a Partilha de Canaã, a Junta Suprema Árabe decretou uma greve geral, e os soldados ingleses, ainda destacados na região, simplesmente fizeram vistas grossas aos incêndios e saques que se processaram no centro comercial judeu de Jerusalém.

No dia 15 de outubro de 1948 o Exército do Egito foi apanhado de surpresa na Península do Sinai. Enquanto a Força Aérea judaica destruiu as aeronaves estacionadas na Base Aérea de El Arish, a infantaria atacou as linhas de comunicação das tropas egípcias. Em 21, tomou a cidade bíblica de Beersheba, ponto estratégico importante no Neguev. No dia seguinte, a Marinha de Guerra afundou o Emir Farouk, navio capitania da frota egípcia, nas águas que banham a Faixa de Gaza.

Próximo à fronteira encontrava-se a cidade de Auja, localizada em um importante entroncamento rodoviário, na qual havia uma poderosa guarnição egípcia destacada, e apenas um único acesso rodoviário. Graduado em Arqueologia, pela Universidade Hebraica, Yigal Yadin, general Chefe de Operações das Forças Armadas, conhecia uma velha estrada que os romanos haviam construído nessa região desértica. Localizada e parcialmente reparada, envoltos no manto da escuridão, na noite de 27, blindados judeus usaram o acesso para empreender a conquista dessa posição estratégica no Sinai.

No dia 29, as tropas de Israel atravessaram o Canal de Suez e, no dia 30, preparavam-se para tomar a cidade de El Arish quando chegou um comunicado do comando israelense para evacuar as tropas do território egípcio. É que a Inglaterra exigiu do Conselho de Segurança das Nações Unidas a retirada das tropas de Israel, ante a emissão de uma declaração de guerra. Em 2 de janeiro de 1949 as tropas israelenses retiraram-se do território egípcio.

Deslocando-se para o oeste, as tropas judaicas tomaram todos os pontos estratégicos da Faixa de Gaza. Então, totalmente isolado na região, o Exército Egípcio tornou-se alvo para as tropas israelenses. No dia 6, o governo do Egito se apressou em reatar negociações de armistício, porquanto não queria ter seu exército dizimado. No dia 10 de março, as tropas israelenses chegaram ao Golfo de Ácaba, que distava 8 km a oeste do Porto de Eilat, local onde os egípcios possuíam um posto policial em Umm Rashrash.

Região de Jerusalém

A região de Jerusalém virou um terror após os britânicos entregarem o Mandato da Palestina às Nações Unidas. Com a retirada britânica, tropas da Haganah lançaram-se na tentativa de ocupar posições estratégicas deixadas pelos ingleses, antes que combatentes de Kawukji o fizessem. O Monte Scopus separava a parte velha de Jerusalém, ocupada por maioria árabe, da parte nova, ocupada por judeus.

O alvo da Haganah era ocupar a parte velha da cidade para consolidar o objetivo da missão, mas recearam causar dois graves problemas: primeiro, danificar lugares históricos de milhares de anos; segundo, causar condições tais que permitissem ser explorados pela política internacional contra o recém-criado Estado de Israel. Como a causa era bastante delicada para o momento, tiveram de recuar no plano de ocupação, apesar de um quarto da população ser de judeus ortodoxos residentes dentro de seus muros.

John Bagot Glubb, general britânico comandante da Legião Árabe, havia acordado com os judeus, que, tão logo o Alto Comando Britânico deixasse Canaã, as tropas jordanianas que comandava atravessariam o Rio Jordão com destino à Jordânia. Mas tudo foi um ledo engano. Ele fez exatamente o contrário, lançando-se imediatamente para ocupar a parte velha de Jerusalém antes que judeus da Haganah e paramilitares a ocupasse.

Devido ao cerco da cidade milenar pelas tropas da Legião Árabe, os 1.700 judeus que viviam em Jerusalém Velha sofreram com a tremenda escassez de água, medicamentos, energia elétrica, água, alimentos, armas e munições. Encurralada, a população ortodoxa judaica era constituída por um “excesso de anciãos e enfermos, excesso de estudantes de Yeshivot [seminário judaico], incapazes de trabalhar ou de lutar, excesso de místicos de todos os matizes de ortodoxia, que viviam durante semanas orando junto aos túmulos de seus santos”.

No dia 19 de maio de 1948 tropas da Legião Árabe, composta de infantaria, veículos blindados e artilharia investiram para fazer a ocupação de Jerusalém, defendida por mil e poucos combatentes judeus dotados de munição quase escassa. A estrada que ligava Jerusalém a Tel-Aviv encontrava-se bloqueada por tropas árabes na altura de Latrun, e nenhum veículo inimigo podia passar.

Com a conquista árabe de Sheik Jarrah, os judeus tiveram cortado o acesso ao Monte Scopus, local onde se encontrava a Universidade Hebraica e o Hospital Hadassah, o mais moderno e bem equipado de todo o Oriente Médio. No dia 20, canhões da Legião Árabe, apesar das intervenções da Cruz Vermelha e da Comissão de Trégua das Nações Unidas, bombardearam essas instalações, e o hospital foi destruído.

Tropas judaicas posicionadas em Jerusalém Velha não tinham mais seus comandantes, e seus defensores dispunham de tão somente 170 balas de metralhadora. Os canhões árabes disparavam de distâncias entre 45 metros e 200 metros. Assim, após as 9 horas da manhã do dia 28, a parte velha da cidade caiu em mãos da Legião Árabe.

Um rabino portando uma bandeira branca em uma das mãos dirigiu-se ao comandante árabe, major Abdullah el Ted, e às 17h foi assinada a rendição da parte velha da cidade. Quando chegou a noite, o bairro judeu da cidade foi incendiado, destruindo casas, lojas, hospitais, o cemitério do Monte das Oliveiras, 58 sinagogas e outras instalações judaicas. Apenas uma parede da Sinagoga Hurva restou de pé para testemunhar o crime histórico praticado contra uma relíquia arquitetônica edificada na Idade Média.

A Legião Árabe destruiu várias sinagogas, saqueou residências judaicas, queimou rolos da Torá, violou lugares sagrados e profanou milhares de sepulturas sobre o Monte das Oliveiras. A Sinagoga Hurva (ruína, em hebraico) foi construída por judeus poloneses (1701), destruída por muçulmanos (1721), reconstruída por judeus lituanos (1864), destruída pela Legião Árabe (1948), e finalmente reconstruída (em 15 de março de 2010).

Uma das primeiras medidas vingativas do rei da Jordânia, Abdullah ibn Hussein, foi mandar construir uma muralha que separasse Jerusalém Velha de Jerusalém Nova, exatamente, para impedir que judeus tivessem acesso ao Muro das Lamentações. No dia 29, Jerusalém Velha recebeu a visita de Abudallah, desejoso de anexar essa parte da cidade e da Cisjordânia a seus domínios.

No início de julho, de acordo com resoluções das Nações Unidas, ficou acordado com o monarca o direito de os judeus terem acesso livre ao Muro das Lamentações, mas o acordo ficou apenas no papel. O acesso dos judeus somente ocorreu duas décadas depois, quando os sionistas conquistaram Jerusalém Velha.

A estrada que ligava Jerusalém ao litoral, conhecida como Corredor de Jerusalém, era uma peça estratégica de elevado valor para suprir a população judaica da parte nova da cidade. Apesar dos homens do Palmach ocuparem a maioria dos pontos estratégicos ao longo desse percurso montanhoso, os árabes conseguiam bloquear os suprimentos de armas, munições e almentos para abastecer Jerusalém sitiada.

É que os ingleses haviam deixado com os árabes o Forte Taggart de Latrun, uma antiga prisão política que os britânicos haviam erguido numa encruzilhada para controlar o acesso a Jerusalém. Então, conquistar o forte tornou-se elemento de capital importância. Os árabes usaram o bloqueio para matar de fome os judeus da parte nova da Cidade Santa. Latrun é o nome da antiga aldeia de Emaús, distante 12 quilômetros de Jerusalém, aquela para onde dois discípulos se dirigiam quando tiveram um encontro com o Messias ressuscitado.

No dia 28 de maio de 1948 o primeiro-ministro David ben Gurion designou o coronel David Marcus para comandar a tomada da fortaleza localizada em Latrun. O coronel ingressou na Haganah como voluntário nos dias do Mandato Britânico, cursou a Academia Militar West Point, e havia prestado “serviço no estado-maior do general Eisenhower na Europa” durante a Segunda Guerra Mundial.

O oficial morreu quando o alvo estava sendo alcançado. Eram 3h50m da madrugada do dia 11 de junho de 1948, poucas horas do início do primeiro dia da trégua coordenada pelas Nações Unidas, quando ocorreu um incidente com o oficial na localidade de Abu Gosh, nas proximidades de Jerusalém.

As tropas judaicas sabiam que militares ingleses lutavam na Legião Árabe. Em meio à escuridão, uma sentinela israelense avistou um vulto em movimento portando um cobertor para se abrigar do frio da madrugada. No idioma hebraico pediu-lhe a senha. O coronel respondeu-lhe no idioma inglês. Tomando-o como um comando inimigo, passou-lhe fogo. Efetuada a inspeção, descobriu-se a identidade do defunto. A sentinela havia matado seu próprio comandante. “Só a muito custo foi possível impedir que a sentinela pusesse fim à própria vida”.

O general Ben Zion, 31 anos, natural de Jerusalém, lembrou-se da existência de uma antiga estrada romana que ligava Jerusalém ao litoral. Supostamente, essa estrada romana era aquela que saía de Jerusalém, ia até Lida, e daí entendia-se a Jope, na região litorânea. Esse antigo acesso estava totalmente coberto por uma camada de aterro, vegetação e wadis. Uma vez localizado o antigo acesso, uma força-tarefa de Tel-Aviv seguiu com destino a Jerusalém, enquanto outra partiu de Jerusalém com destino a Tel-Aviv. Os trabalhos visavam desobstruir o acesso, e um mês de trabalho foi o prazo estabelecido para a conclusão dos serviços.

Ben Zion costumava dizer: “Sem Jerusalém, não existe um Estado Judeu”! Durante o dia as equipes de trabalho ocultavam-se para não serem detectadas pelas tropas da Legião Árabe e, com a escuridão da noite, lançavam-se a remover as camadas de terra, vegetação e detritos ao longo de ravinas da região montanhosa. Uma mensagem de Jerusalém acabara de chegar. Era a mensagem de número 1.358. Ben Zion apanhou a Bíblia para ver o conteúdo da mensagem que encontra-se no capítulo 35, versículo 8, do livro do profeta Isaías: “E ali haverá uma estrada, um caminho que se chamará o caminho santo”.

Os comboios que procediam de Tel-Aviv com destino a Jerusalém eram bloqueados pelas aldeias árabes ao longo do Corredor de Jerusalém. Sitiados pelas tropas da Legião Árabe, os judeus da parte nova de Jerusalém sofriam com o frio, fome, sede e escassez de munições. Além de defenderem a cidadela para não ser tomada, os homens da Haganah tinham também a tarefa de alimentar, garantir a segurança da população civil sitiada, e ainda dar proteção a judeus ultraortodoxos, que, além de se recusar pegar em armas para se defender, tentavam obstruir a ação dos combatentes.

Os religiosos “continuavam à espera do Messias”, que, segundo eles, viria para tomar posse da terra e expulsar os árabes. Na verdade, o Messias prometido pelas Sagradas Escrituras veio no primeiro século da Era Cristã, mas o Sinédrio judaico o pendurou no madeiro.

Ao ocupar o Forte Taggart, as tropas da Legião Árabe explodiram a estação de água que abastecia a população da parte nova de Jerusalém. Assim, sem abastecimento de água potável, a população conseguiu localizar antigas cisternas, abertas há dois mil anos, e as colocaram novamente em funcionamento, por meio de um sistema de canalizações. Para garantir a posse da cidade durante o bloqueio árabe, cada residência tornou-se um campo de batalha, com o envolvimento de homens, mulheres e crianças combatendo nas trincheiras, até o Corredor de Jerusalém ser conquistado por tropas judaicas.

Somente depois de trinta dias de árduo trabalho as tropas desobstruíram a antiga estrada romana. Isso posto, a Haganah usou a estrada romana para contornar a fortificação árabe, que posteriormente foi tomada, e o acesso a Jerusalém ficou totalmente desobstruído. Esse acesso foi o último reduto a ser conquistado na guerra que durou seis meses de combates.

Forte Taggart é o nome dado a 52 postos policiais britânicos construídos em posições-chaves por ocasião do Mandato Britânico, devido a uma recomendação de Sir Charles Taggart, que havia sido nomeado “conselheiro em assuntos de segurança para a região”. A fortificação constituía uma rede de proteção em torno da Palestina ocupada.

Com o fim do Mandato Britânico, ao deixar a Palestina, as tropas britânicas puseram muitas fortalezas com o general Glubb, comandante da Legião Árabe. Devido ao bloqueio árabe à população judaica de Jerusalém, a cidade milenar ficou isolada e, logo, logo, podia ser conquistada. Suprir as tropas judaicas sitiadas com armas, munições e alimentos tornou-se um tremendo obstáculo a ser suplantado. A desobstrução, de forma secreta, da antiga estrada romana, ocupou cerca de 500 militares. Enfim, no dia 11 de agosto de 1948, uma nova adutora, passando pela antiga estrada romana reaberta, forneceu água à população de Jerusalém Nova.

Os árabes intentaram matar de sede os judeus de Jerusalém sitiada. Se não podiam afogá-los no mar, que então morressem de sede. No dia 12 de setembro, perante uma enorme multidão, o primeiro-ministro David ben Gurion inaugurou a estrada com percurso de 24 km, e a batizou com o nome Estrada da Coragem.

Em um congresso realizado em Jericó, em 1º de dezembro de 1948, Abdullah foi aclamado “Rei de toda a Palestina” pelos delegados árabes presentes ao evento. No dia 13, o Parlamento da Transjordânia aprovou a anexação da Cisjordânia ou Margem Ocidental a seus domínios, ratificando aquilo que, anteriormente, havia sido acordado no Congresso realizado em Jericó. Devido a isso, as nações árabes romperam com a Jordânia. No dia 20, foi a vez do rei Abdullah romper com a Liga Árabe, e Haj Amin, o Mufti de Jerusalém, foi exonerado de sua função.

Em 24 de janeiro de 1950, apesar de ser advertido pelo secretário-geral da Liga Árabe, o rei Abdullah anunciou a incorporação da Margem Ocidental a seu reino; e, no dia 27, a incorporação foi reconhecida pela Inglaterra, sua protetora.

Israel reviveu

Raimundo Nonato Freitas de Cerqueira

Florianópolis, Santa Catarina, Brasil

Obra ainda não publicada

RNF Cerqueira
Enviado por RNF Cerqueira em 10/05/2019
Reeditado em 02/04/2022
Código do texto: T6644050
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