O TEMPO E O CONTADOR DE HISTÓRIAS
O tempo confunde o contador de histórias ou o contador de histórias se confunde com o tempo? Noto que as histórias quando recontadas mudam de época e de rumo. Fica confuso o que ele está tentando contar. O ouvinte diferencia uma da outra, mas, o contador de histórias mistura os fatos com a ficção e vice-versa. Encontro em Agostinho Both o conto, O Tempo é Consequente, que cita, “... Carrego a ternura densa em mim. Que cada um tenha pra seus cuidados e para os seus o tempo necessário...”
O contador de histórias que fica a mercê da memória é compreendido; mas o que fica a mercê da lembrança, se repete como se fosse em outro tempo. Não percebe a exatidão dos acontecimentos e, se distancia em seus pensamentos. Para Getúlio Zauza, “O tempo é um raio / e se escoa num momento...”
O contador de histórias diz do que lembra e, por vezes, lembra só o que quer ou o que gostaria que tivesse acontecido; pois, o tempo quando no passado lhe prega peças ao misturar as “estações”, o que o leva a transmitir em primeiro lugar as emoções e depois as reflexões sobre a história. Na verdade, por instantes, seu pensamento deveria se encontrar ou se situar no tempo, como Clarice Lispector retrata, “Eu te invento, ó realidade”.
Há momentos em que o contador se depara com a “cruel verdade”, ao provar da própria vida e do quanto de espaço ocupa no viver, como demonstra Pedro Du Bois, “Na verdade nos preocupamos com o tempo: / e o nosso / tempo permanece / intocado na / infinitude do espaço, onde os / escolhidos / se lançam / em eternidades”.
É isso mesmo, o contador pensa que conduz o tempo com as histórias e se recorda da vida com a certeza que lhe é permitida, para conviver ou sobreviver com as diversas exceções que se refletem no pensamento, como diz Cândido F. Ferreira, “As mentes marcadas pela surpresa / De vidas desamarradas”.