As Virtudes do Mestre

As Virtudes do Mestre no

contrapé de uma civilização doentia

“Ódio produz casamentos duradouros.

O ódio não suporta a ideia de ver o outro voando,

livre, para longe...

O ódio segura, para que o outro não seja FELIZ.

O ódio gruda mais que amor,

porque o amor deixa o outro VOAR...”

Rubem Alves

“O amor é o vínculo da perfeição”

Paulo de Tarso

Deveras o mundo, sem que eu venha ser, ainda que relutando em minh’alma, pessimista, porém, muito mais realista; vive desde os lendários cavernistas pré-históricos, um dos maiores dramas capaz de tirar toda a essência da vida no ser criado. O ser criado não meramente, claro não querendo desmerecê-la, pelo contrário, segundo a Palavra como descrevi em capítulo anterior, mas dentro deste contexto, muito mais que isso, segundo a atitude; atitude que o próprio Criador usou na construção do ser humano com Seu caráter; Deus é de palavra, mas também de atitudes. A Gênese bíblica relata a origem ou criação de todo universo por meio da infalível Palavra de Deus; a Palavra segundo os estudiosos “haja” (Gn 1), no sentido de existir, ou, de trazer à existência pelo Seu Poder, aquilo que não existia, é a ordem imperativa, taxativa, sem meio termo; Deus não é de meio termo “...sim, sim; não, não. O que disso passar vem do maligno” (Mt 5:37).

Mas enfim, a Palavra que de fato, é a base para a construção intelectual, moral, ético e espiritual do ser humano, a boa palavra; é a sua ação na mente e coração humano num processo transformador. Porém, na construção do ser humano; do belíssimo ser humano e toda sua estrutura de ordem física, mental e espiritual, a história foi diferente. Diz a Bíblia que enquanto o Criador na formação do universo faz uso da Palavra como relatei ainda a pouco, na construção do ser humano, entretanto, emprega com grande e sublime autoridade o “façamos” (Gn 1:26) acompanhado da atitude, ou “Et ait: Faciamus hominem” (façamos o homem) (Gn 1:26) que vai muito além do simplesmente “fazer”, mas sim, numa linguagem de figuras, projetar, engenhar, desenhar e sobretudo construir com tinta de ouro o ser humano e sua faculdade de pensamentos, sentimentos e atitudes; é uma obra extraordinariamente extraordinária – coisa de escritor - e por sinal, extremamente organizada. Deus, segundo o escritor,

“tem de existir. Tem beleza demais no universo, e beleza não pode ser perdida”. E Deus, completa ele ainda, “é esse Vazio sem fim, gamela infinita que pelo universo vai colhendo e ajuntando toda beleza que há, garantindo que nada se perderá, dizendo que tudo o que se amou e se perdeu, haverá de voltar...”

Enfim, Deus planejou o ser humano segundo Seu caráter e Seu próprio conselho, haja visto não existir outro além, capaz de lhe aconselhar; à sua imagem e semelhança. É uma obra de fato, sobre três grandiosos pilares; pensada, planejada e por fim, executada; o que vale dizer que Deus pensa, Deus planeja, e Deus executa. Façamos o homem diz Ele, olhando para o Seu coração; com amor; o amor que segundo o educador acima numa força de expressão, é anseio em levar o ser humano a refletir sobre sua importância não puramente com base num passado que muitas vezes tenha lhe causado grandes decepções, nem tampouco no futuro que todavia, é incerto mas, no presente, no momento, que é a certeza absoluta do quem somos, onde estamos e com quem estamos, “é a vida acontecendo no momento: sem passado, sem futuro, presente puro, eternidade numa bolha de sabão”; façamos com carinho; com misericórdia; façamos o homem, voltado a olhar para dentro de Si mesmo, de maneira distinta, com olhos de compaixão e profundo amor celestial; portanto caro leitor, posso até lhe parecer muito repetitivo mas vejo na constância, na perseverança, o marco da vitória conquistada na cruz. O ser humano não foi criado de uma forma vulgar ou de uma forma “qualquer”, melhor dizendo, pelo contrário, somos frutos do apaixonado coração de Deus. Ah...como quisera eu que a humanidade reconhecesse esses valores! Como gostaria de vê-los amando apaixonadamente seu semelhante assim como Cristo incondicionalmente nos amou. O mundo seria outro. Onde nascem os fortes? Os fortes nascem na cruz! Ah...Cruz! Os olhos não conseguem te alcançar. Somos cegos e primitivos até a alma. Que venhamos receber Cristo em nossa alma com ramos e aplausos, hinos e louvores, Hosana e bendito, como quando de sua entrada triunfal em Jerusalém pelos portões eternos bem colocado pelo salmista no Salmo 24 e não como muitos, armados de lanças e espadas ou outros, calados como no monte calvário apenas como espectadores.

...quem move a terra para fora do seu lugar, cujas colunas estremecem;

quem fala ao sol, e este não sai, e sela as estrelas;

quem sozinho estende os céus e anda sobre os altos do mar;

quem fez a Ursa, o Órion, o Sete-estrelo e as recamaras do Sul;

quem faz grandes cousas, que se não podem esquadrinhar,

e maravilhas tais, que se não podem contar.

Eis que ele passa por mim, E NÃO O VEJO;

segue perante mim, E NÃO O PERCEBO. (Jó)

Dando prosseguimento, portanto, diz a Bíblia que depois de havê-lo criado, a história tomou rumo diferente - “e, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará” (Mt 24:12) diz o Profeta; infelizmente é o rancor, é o ódio se fazendo presente e tirando a liberdade espiritual do ser humano para com Deus; a liberdade para a vida, para a alegria; a liberdade para caminhar rumo a conquista célica. O ódio, como o grudento visgo, trava o ser humano por completo; é uma des-graça ou anti-graça, uma miséria, uma perversão contínua na vida daqueles que o aceita e desta feita, a mão direita tendo ciência do que sente a esquerda, tem sido escravos de si mesmos, de seus pensamentos depravados, malignos, incapazes de reconhecerem a profunda masmorra em que se encontram, ventilados por um silencioso e terrível vento frio e seco; sem vida, soprado pelas profundas narinas das trevas; de fato, um verdadeiro calabouço ou vale de ossos secos; sem vida, sem perspectivas, sem alma e sem amor que segundo o apóstolo “é o vínculo da perfeição” (Cl 3:14).

Sério! As sutilezas, a sensibilidade, o amor, a compreensão e a justiça relativa (de Platão) que é a justiça humana que se espelha nos princípios da alma ora também muito bem ensinado por Jesus durante sua estada na terra, uma virtude indispensável à vida em comunidade que é aquela que propicia a convivência harmônica e cooperativa entre os seres humanos em coletividade, são sempre bem-vindos. Como Ezequiel, completo, deveras nos encontramos num verdadeiro vale de ossos secos a andar em contínuos círculos observando e muitas vezes nos fazendo cúmplices das atitudes cavernais de uma humanidade corrompida, sem sentimentos, inertes, exatamente como na visão do profeta, literalmente mortos e incapazes de reconhecer a excelência da obra do Criador que se fundamenta no seu profundo amor e um inconfundível desejo, assim como pai, em vê-la vivendo harmoniosamente e como crianças de mãos dadas caminhando sem pré-conceitos, isso mesmo, sem preconceitos, amarguras ou ódio. Essa é a essência do coração de Deus, sua criatura vivendo no amor do céu sob sua cobertura; amando e sendo amado, respeitando e sendo respeitado, perdoando e sendo perdoado, florindo e sendo florido pelas encantadas flores que embelezam o mundo das cores segundo “a melodia das flores” que dançam para cá e para lá numa harmoniosa sintonia.

Segundo o educador Rubem Alves

“Ódio produz casamentos duradouros.

O ódio não suporta a ideia de ver o outro voando, livre, para longe...segura, para que o outro não seja FELIZ.

O ódio gruda mais que amor, porque o amor deixa o outro VOAR...”

e completo, não permite crescer, avançar e prosperar em todos sentidos. Diz William Blake que “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê” e que “uma mulher que vivia perto de minha casa, diz Blake, decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para sua vassoura; seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo”. O ódio certamente é esse lixo apodrecido que nos têm impedido de enxergarmos com olhos de poeta a beleza infinita de um Deus maravilhoso e sua criatura e lembrarmos que não somos nenhum homem da caverna com suas longas barbas, corpo embrutecido, enrugado e unhas por fazer, mas sim, homens dotados de inteligência, formados num Encantado Jardim sob os olhos do Criador.

Mas enfim, ainda como homem, mas diferentemente de toda humanidade em suas atitudes no entanto, foi Jesus, que, mesmo pendurado de braços abertos na cruz numa bela frase poética como disse em meu livro “A Última Batida do Martelo”, quando tinha tudo como odiado, poderia também na mesma proporção odiar; quando tinha tudo como maltrato, poderia na mesma proporção maltratar; não, Ele foi diferente! Ele amou e perdoou; é o AMAR e PERDOAR (ijubov i prostuvanje) aqueles que o havia condenado; ódio não cabia no seu vocabulário. Sua linguagem e pensamentos eram totalmente diferentes; de Poeta.

No momento em que Ele naquele jardim, estando em agonia e oração, transpirando além de seus limites, como Filho clamando ao Pai para que se possível lhe passasse aquele “cálice”, momento de terrível sofrimento e agonia que ele próprio sofria na alma, recebendo inclusive o eterno sinal da traição na sua face ora marcado para sempre como testemunho ao mundo, ele tinha tudo para odiar aquele que o beijou mas, ao contrário do que pensa e vive a humanidade, soube controlar suas emoções e sentimentos num verdadeiro domínio próprio, fruto do Espírito Santo, e nesse cenário macabro iluminado a meia luz, e repleta das folhas e galhos secos torcidos, no vai-e-vem das rastejantes lagartas esverdeadas, olhando firmemente para o seu traidor disse tendo como testemunha o céu, a frase que muitos até no presente século não conseguira entender, tamanha virtude que fora: “Amigo, para que vieste?” (Mt 26:50). Essa foi incontestavelmente a mais gloriosa frase que alguém um dia pudera recitá-la diante de tamanha traição, o que nos mostra que o Mestre de maneira alguma permitira seu coração ser contaminado pelas batatas apodrecidas do ódio ou rancor. Ele tinha tudo para odiá-lo naquele momento, mas, preferiu o caminho das rosas, o chamando de “amigo”.

A ira e o ódio com seus longos trajes esfarrapados e apodrecidos, dentes travados se rangendo um ao outro, andam de mãos dadas prestes a consumir desesperadamente a sublimidade do ser que somos; imagem do Criador. Como amalucados, vagueiam nas vielas escuras noite a dentro cambaleando canto a canto sobre os paralelepípedos enlodecidos pela tempestade passada, como o bêbado completamente sem direção e destino que nesse ínterim já não se lembra donde viera nem tampouco para onde vai. Assim são os inseparáveis pai e filha; ira e ódio no coração dos loucos.

Iraldir

Ou como o poema “pra não dizer que não falei do ódio” contrário ao poema das flores no que diz: Ódio é quem tem inveja da gratidão, é filho da ira, irmão da discórdia, pai da raiva, é fogueira que cresce com o medo, é a arma dos fracos, é o que apodrece a gente de dentro para fora, é quem envenena a alma e condena o coração, eu posso te desagradar, mas pra que me odiar? E pra que falar do ódio? Falar dele é quase que um convite pra ele entrar, isso daí não me faz bem. Fonte: João Doederlein@akapoeta

Lembro-me de um poema do Egito antigo denominado Papiro Ipuur ou Papiro corações, gênero conhecido como Sebayt (instruções) desenvolvido para comunicar os ensinos e orientações dos nobres famosos daquela época em que se destaca o Ensinamento de Ptah-hotep, que em trinta e seis máximas expõe as reflexões do seu autor sobre as relações humanas o que me leva a crer mais uma vez desde longos tempos o quanto a humanidade se encontra doentia. De fato, como o vento forte bate nos cantos obscuros da terra e logo se vai sem olhar para trás a ver o rastro de destruição e desordem deixado, assim somos na ânsia de engordar nosso orgulho. Deveras praticamos atos horrendos, prejudicador e vergonhosos ao nosso irmão e semelhante sem sequer medir o prejuízo em que o deixamos. É de se admirar que no presente século quando deveríamos ser mais humanizados, nos tornamos inumanos como relata o papiro Ipuur em que segundo seu poema de lamentações a exemplo das Lamentações de Jeremias descreve as catástrofes e agitação social bem como, reforço, a longa distância do ser humano em relação a Deus.

Sem dúvidas, é uma catástrofe. Ipuur reclama assim como todos os profetas do Altíssimo sempre reclamaram, lamentaram e até choraram derramando rios de lágrimas; que o mundo está virado de cabeça para baixo e diante disso clamavam ao Senhor de Todos, que se lembrasse de destruir seus inimigos.

Trecho de meu livro "Os Cavernistas de Hoje - Primitivos espirituais no avesso da vida"

Iraldir Fagundes
Enviado por Iraldir Fagundes em 05/01/2019
Reeditado em 05/01/2019
Código do texto: T6543472
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