A INDIGNAÇÃO E A IRA
A Palavra é o resultado corporal do respirar humano. Em regra, é o vento que sai para fora articulado, com uma destinação intencional. Cada hausto de ar leva o teu corpo mais próximo à finitude. Não uses a palavra em demasia e nem fiques impossibilitado de resgatá-la, no caso de verborragia acompanhada de promessas e/ou atitudes em que predominam a indignação reprimida ou a raiva. O que dizes é um pedaço, uma nódoa de teu corpo e de tua vida, no receptor. Respirar assim é o amor dito sem a fortaleza da palavra, negando a si próprio. Nestes casos extremos e deletérios nada é prenunciado ou intencional, no corpo. É momentâneo, instantâneo e tormentoso. Um desgaste indevido, porque Palavra é ação pelo respirar. Por vezes, mesmo sendo vida, o respirar pode conter até a morte para quem não percebe a precariedade de estar no mundo e o determinismo da finitude do corpo. Todavia, se levado também ao extremo, o inconsciente se confunde com o corpo. O Ego é uma realidade muito pluralista.
– Do livro A VERTENTE INSENSATA, 2017/18.
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