A Última Batida do Martelo II

“Tudo está feito”

“A justiça e a paz se beijaram”

“eis que está posta a grande obra redentora ao homem na terra”

“Acabou a escravidão, a ditadura e sofrimento espiritual; acabou o luto eterno, eis que faço nova todas as coisas; o Cordeiro venceu! Aleluia”.

“Está posto o machado à raiz das árvores”, diz a Voz que clama no deserto.

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Porventura, dentro em pouco não se converterá o Líbano em pomar, e o pomar não terá tido por bosque?

Naquele dia, os surdos ouvirão as palavras do livro, e os cegos, livres já da escuridão e das trevas, as verão.

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Os últimos capítulos do evangelho acima referido, portanto, nos revelam grandes ensinamentos, ainda que o Mestre ali se encontrasse pendurado e nu, como um desajustado, desordeiro, mercenário, agitador, anarquista enfim; como um cordeiro mudo perante seus tosquiadores sob o terrível sol escaldante, gemendo, agonizando, ali se encontrava, mas mantendo-se O HOMEM verdadeiro em seus ideais e missão.

O Homem dos homens mantinha suas convicções, e como o enviado de Deus pôde acompanhar naqueles últimos tempos a rebeldia de um povo que ao longo de suas vidas, pudera, apesar de seus ouvidos tapados pela resistência, ouvir e aprender sobre a grande e sublime virtude.

Eu procurei palavras pra exprimir tamanha sensibilidade e ao mesmo tempo coragem naquele homem e encontrei uma e principal inclusive, que é o AMOR.

Poetas do mundo inteiro, até mesmo na Grécia antiga, berço da filosofia, palco de nomes renomados, fizeram enormes tentativas ao longo dos anos de retratar em seus versos e poemas tantos, este magnífico e incomparável amor, no que foram frustrados; por mais que buscassem palavras afáveis, jamais, em todo tempo, encontrariam tanta profundidade, porque a sua essência está no seu Espírito. “Existem muitos amores por aí, mas nenhum se compara com o da cruz”.

Mas enfim, A Rosa Vermelha de Saron estava ali exposta no madeiro.

Homens e mulheres acompanhavam aquele evento.

Os olhos daquele povo, Nele estavam postos.

Uns chorando pela esfacelada Flor ali pendurada.

Outros gargalhando, zombando da Rosa ali manifesta.

Uns se arrepiando e meneando a cabeça por aquele sofrimento; outros, por inveja, escarnecendo e cuspindo-lhe o rosto se gloriavam ao vê-lo ali pendurado que sarcasticamente diziam: "onde está o teu Deus, ó tu que destróis o santuário e o reedificas em três dias. Se és Filho de Deus...";

É! Não entenderam a mensagem!

Sua vida é uma rosa vermelha cravada na cruz!

O mundo não compreendia o valor daquele Sacrifício naquele monte; o monte do calvário, da caveira, gólgota no hebraico, mas também, monte da eternidade, da transformação e triunfo; monte da morte e paradoxalmente da vida, manifestando outra Vida, a Eterna, a que subsiste para sempre; a que não morre, mas vive pelos séculos dos séculos.

Aquele que seria o lugar de trevas transformou-se em lugar de Luz.

Os montes à sua volta estremeceram.

Mortos rasgando seus túmulos ao meio ressuscitaram.

O inferno sucumbiu-se.

O céu rasgou-se de alto a baixo como num estrondoso relâmpago ao que aplaudiram de braços abertos os anjos, arcanjos e serafins como numa orquestra celestial em seu palco infinito, muito bem organizado e afinado com a regência do sublime, nobre e magnânimo Maestro da Vida, tamanha sua virtude.

Os montes se abalaram soprando de suas entranhas labaredas de fogo.

A terra se fendeu. O céu tocou trombetas pelo homem da cruz.

Eram três ali pendurados, mas apenas um com toda sua humildade e simplicidade comoveu o universo, como exposto na pintura “crucifixion” do italiano Gaudenzio Ferrari no ano de 1513 em San Maria delle Grazie, Varallo Sesia na Itália, muito bem exposto por sinal onde mostra anjos e arcanjos sobrevoando e reverenciando o Mestre entre meio aos outros também crucificados e a multidão ali ao pé da cruz num tumulto pavoroso misturado aos cavalos militares sem entender o que de fato acontecia no mundo além dos olhos naturais.

Mas enfim, nunca mais o mundo foi o mesmo; partiu-se ao meio!

Os poderes dos céus foram abalados.

Ao seu lado direito, estrelas brilharam. A lua deu sua claridade.

Ao seu esquerdo, saraivada na terra.

Relâmpagos e trovões rasgaram os céus de norte a sul se manifestando.

Abalou-se o sustentáculo terreno; a terra se ajustara ao Eixo Central.

O grande milagre acontecera.

As profundezas da terra não puderam suportar a presença do Galileu.

Tremeram de terror ao vê-lo com Seu fulgor traspassar seus portões infernais rangendo-se ao abrir suas fechaduras e dobradiças apodrecidas.

A Luz venceu as trevas. A morte deixou de existir.

Anjos e arcanjos de pé e com aplausos receberam O Cordeiro mudo.

Diz o escritor que “a humanidade não compreendia o que se passava no céu”.

O Grande mistério; o mistério da vida acontecera.

Ó Poeta dos milagres! Diz o escritor:

Ó Poeta!

Tu, somente Tu, és o Resplendor da Glória Eterna.

Tu és a Perfeição, a Eterna Glória.

Tua dor mudou os pensamentos,

Feriu os sentimentos.

Tuas mãos na cruz ergueram-se aos céus.

Uma a esquerda, outra a direita, num sublime ato de Reverência ao Senhor.

Inclinou-se a cabeça.

E mesmo pendurado, fora capaz de adorar o Criador.

Ouviu-se um brado de vitória: “tudo está consumado”.

Feito está!

Trecho de meu livro "A Última Batida do Martelo - Bateu-se o martellu, O Cordeiro venceu"

Iraldir Fagundes
Enviado por Iraldir Fagundes em 19/12/2018
Reeditado em 19/12/2018
Código do texto: T6531171
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