ESTAÇÕES DE INCERTEZAS EM MIM
Já não cabe mais nenhuma dúvida em meu ser, há um astronômico desajuste em mim. Há uma brusca desordem da incidência solar nas estações da minha alma que, me carrega para outros mundos,sem se importar com a distância colocada entre a terra e o alto, entre o cansaço e o frio...Não é clima favorável e sei que nunca foi mesmo. O meu viver está fora de órbita, nessa contumácia de múltiplas movimentações. Não sei se trafego em translação, rotação, se me inclino ou se faço tudo isso e um pouco mais. Só sei que não sou permitido a parar, ainda que essa trajetória desajustada continue numa movimentação desorbitada que, ora fico abandonado em estações chuvosa e fria, ora sou largado na mais quente das estações, pois, se paro, inexisto.
Às vezes, percebo em mim uma temperatura mediana, ao ponto de sentir o corpo desabar, feito as folhas das árvores que caem no outono. Uma monotonia diária e noturna toma conta de mim, como se nada mudasse e a noite e o dia fossem sempre iguais, outrora, sinto como se a noite não mais quisesse chegar ao fim para dar oportunidade ao brilho do dia. Percebo o vento soprando meu existir. No fundo, o sol ilumina o dia, a lua ilumina a noite e as estrelas reluzem nos amores, mas sou eu quem não consegue brilhar.
Fico gélido, às vezes, minha vista fica embaçada, feita a neve do Sul do País nas plantas,nos para-brisas dos automóveis e nas vidraças das janelas. Tudo fica ainda mais triste e frio. Na insônia, sinto o sol quebrando o inverno do meu descontentamento, enquanto tento encontrar meu caminho de volta para algo verdadeiro, onde eu pertenço ao real.Terminantemente,há um inverno em minha vida que somete o tempo será capaz de me permitir limpar a cortina cinza dos olhos.
Sim, é verdade. Devia\ ser uma estação de luz, cores e brilho, mas há uma primavera sem flores ou de flores atrasadas em mim.As primeiras chuvas primaveris até trouxe uma relva verde-alegre e com ela abrolhou as primeiras flores, ainda tímidas, bastante tímidas, mas brilhantemente perfumadas, porém não me deixou exalar cheiro e brilho algum.
Ainda tenho um pouco de ânimo para abrir uma janela da sala e sentir o frio que invade o apartamento! Frio? Percepção sensorial, sinal de que as ondas cerebrais estão se aquecendo... Abro todas as outras janelas que se abrem para o mundo, um mundo alegre lá fora, mas continuo nessas estações, sem tristezas e sem alegrias em meu ser. A luz se fecha para mim. As cortinas também.
Agora o corpo parece pegar fogo, tudo se incendeia e os dias já não tem pressa de se acabar, feito uma estadia no verão do inferno. A temperatura se eleva. Tudo parece crescer e eu diminuir.
Um sentimento equinócio me coloca entre as colinas de um outono sem vigor e uma primavera escurecida, ao mesmo tempo em que um desejo solstício me faz transitar desorbitado pelas ruas de um verão frio e um inverno de dor, sem cor e sabor.
Meus sentimentos habitam num território de uma guerra entre anjos e demônios existentes em mim. Vivo, enfim, a cambalear por estações de janelas, portas e cortinas cerradas, por espaços de luzes apagadas, estradas silenciosas, planetas desconhecidos e me dou conta do meu constante chorar de lágrimas cáusticas na hora mais escura da noite, enquanto meus anjos travam lutas incessantes com alguns dos meus demônios.
Todos os meus sonhos estão longe de navegar por órbitas reais, sempre foram um navio à deriva no oceano perdido,a um milhão de milhas de distância de mim, ou sempre estiveram num espaço sideral inatingível,há bilhões de bilhões de anos-luz de mim. Há muito estou de consolo, pois se um deles se desprendesse do vácuo para atingir alguma estação na minha vida, tardaria tanto que,talvez, só chegaria ao fim da noite mais longa, e, seus pedaços afundariam nas areias do mais longínquo e desconhecido deserto, simplesmente para não chegar até aqui. Não sei se ainda há tempo para um sonho se realizar, o que sei é que cheguei até aqui auxiliado pela luz interior para fugir do inferno dentro do meu existir.