MISSA DE DOMINGO
Hoje eu fui à igreja. Já tinha programado isso ontem, caso não amanhecesse de chuva. De fato não amanheceu. Realmente já tinha um bom tempo que eu havia deixado de ir às missas. Não que eu tivesse sofrido algum abalo na fé. Indo ou deixando de ir a algum templo, Deus está sempre velando por mim e guiando meus passos. Sinto esse velar todo o tempo.
Claro que também há momentos em que sinto um total abandono divino, ao ponto de olhar para trás e ver somente as pegadas de um ser. Penso ser meus rastros, mas é engano. Logo, percebo ser as pegadas de Deus me levando nos braços. Guia-me por onde quer que eu vá, sem exigir recompensas e toda orientação que recebo é para o meu próprio bem. A verdade é que mesmo passando algumas temporadas sem ir à igreja, gosto quando vou. Eu devia ir todos os dias, ou pelo menos, todos os domingos, mesmo sozinho.
Por isso, nesta manhã deste domingo eu fui à igreja deste bairro. Primeira vez que entrei naquela igreja deste bairro. Não que no bairro de antes não tivesse templo católico, não que eu não tivesse ido lá inúmeras vezes. No bairro de antes tinha uma igreja e eu fui várias vezes, mas fiquei sem visitá-la por algum tempo. Visitava outras em outros bairros, raras vezes, mas nessa deste bairro foi a primeira vez.
De estranho, somente as pessoas, o cenário arquitetônico se diferencia muito pouco ou quase nada das demais católicas daqui, a missa também.
Entrei mudo e sair calado. Falei apenas com Deus, em pensamento.
O padre parou o sermão, na hora da homilia, um cão chorão o obrigou. A atenção de todos saiu do padre e se voltou ao cão choroso que adentrou à igreja reclamando e lamentando de fortes dores nas pernas. Um membro da comunidade que estava sentado num dos primeiros bancos da frente se levantou e dirigiu-se para os fundos do santuário.
— O cachorro está feito mulher pirracenta: dando birra a troco de nada. — Disse já voltando e se sentou no mesmo lugar que estava antes.
Nos nossos ouvidos a expressão caiu como uma piada engraçada, inclusive nos ouvidos do padre.
— Ainda não tinha conhecido a existência desse tipo de mulher que pirraça e fica de birra não!
Depois de retrucar, o padre continuou tentando prosseguir com sua homilia, mas custaram uns bons segundos para que ele reencontrasse o fio perdido da miada.
Ao término da missa o padre perguntou se havia alguém ali visitando aquela igreja pela primeira vez. Ninguém se manifestou. Provavelmente, diferentemente de mim os demais já eram visitantes frequentes. E já que mais ninguém se manifestou, imagino eu que sempre fui impulsivamente discreto, jamais faria nenhuma menção de me manifestar! O olhar do padre para a minha direção parecia me denunciar. Eu fingia que nada era novo por ali e passei batido pela chamada de atenção, mas acho que no fundo, o padre sabia que eu era novato e preferiu resguardar a minha privacidade, diferentemente do diácono daquela igreja do meu antigo bairro que parecia visitar as famílias durante a semana somente para despejar tudo sobre o que vira ou ouvira aos domingos, na igreja, daí minha decisão de me afastar daquela.