Literatura Paraisense: Poeta José da Mata – Parte 2

            Esta crônica continua as anotações sobre a história da literatura de São Sebastião do Paraíso, MG, destacando a obra do poeta José da Mata, falecido em 1908, com apenas 22 anos de idade, mas que deixou seu nome na história cultural da cidade. Escreveu poemas e crônicas, abordando temas gerais, de interesse da sociedade; tais como a importância da abertura de escolas, a proibição do jogo do bicho, os cachorros soltos pela cidade ou a necessidade de liberar os passeios públicos, obstruídos pelo hábito de moradores que estendiam as rédeas dos animais de montaria, em frente as suas casas.

            Em 1906, escreveu sobre o lançamento do primeiro livro de poesia do então estudante Noraldino Lima, quando este já estava estudando no Ginásio Granbery, de Juiz de Fora. “Os Albores são as provas cabais da pujança do invejável talento do jovem poeta paraisense, vespertina estrela que começa a refulgir na constelação garbosa e deslumbrante do mundo intelectual”.

            Na visão abalizada do escritor Souza Soares, nessa época, José da Mata já estava doente dos pulmões. No mesmo dia em que publicou o soneto “Em véspera”, publicou um artigo com veemente apelo em favor da construção da Santa Casa de Misericórdia, chamando a atenção dos políticos para os exemplos dos hospitais já existentes em Passos, Monte Santo e Cássia.

            No final de 1906, o jovem poeta escreveu sobre a festa de encerramento do ano letivo das escolas públicas do professor Gedor Silveira e de sua esposa, professora Dona Luizinha. Participaram dessa festa: o Padre Benatti, que havia recém assumido a direção da paróquia, o promotor José Bento de Assis, o juiz de direito Luiz Sanches de Lemos e agente executivo médico Placidino Brigagão. Registrou nesse artigo: “a galante menina Clotilde Nicácio recitou, com ótima dicção, uma inspirada poesia, intitulada A Escola, de Noraldino Lima”. A referida menina tornou-se irmã da Ordem de Jesus Crucificado, e durante anos, serviu como superiora da instituição em Fortaleza, Ceará.

            Em 1945, mais de três décadas depois da morte do poeta, Souza Soares, assim se expressou em seu livro de história: “José da Mata, na sua prosa e nos seus versos, revelou, dado o acanhado da época, grande inteligência, que seria aprimorada se a morte não o arrebatasse. Adoentado, regressou de Silvestre Ferraz, em julho de 1907, e sempre doente, tuberculoso, passou dias de tristeza e torturas até 13 de janeiro de 1908, quando faleceu”. O professor Gedor Silveira publicou seu obituário: “Cantando as flores em seus versos, a natureza em suas estrofes, o amor em sua lira poética, foi um impecável que sentiu a vida sem viver e teve a morte sem morrer”. De fato, os poetas não morrem na obra perene que deixam para as outras gerações. Prova disso é que 110 anos após a morte física do jovem poeta, estamos aqui reverenciando sua memória.

 
Em véspera
                                    José da Mata
 
Eu vou partir, eu vou partir em breve
Talvez que procurando minha vida
Como a falena débil que ferida
A bem alto voar ainda se atreve.
 
Que no infortúnio não me tolha a neve
Deixando a alma do pobre combalida
Porque se senta fraca e esmorecida
Para as lutas que vencer um dia deve.
 
Deixo tudo: família, meus amores
Amigos e este ceu do Paraíso
Tão lindo e tão soberbo em suas cores.
 
No peito - eu levo a dor da soledade
Nos lábios, de tristeza, levo um riso
E na alma, o fero espinho da saudade.