AMORES versus HORAS

“Felicidade se acha nas horinhas de descuido” (Guimarães Rosa)

Cada um tem o seu momento de encontro com o amor e com a hora do que tem e quer para a vida, no significado da existência pelo sentimento. Como encontro em Oswald de Andrade, no livro Memórias Sentimentais de João Miramar.

Amores versus horas constitui a inegável relação em que os anseios evidenciam o viver, o que nos permite ir atrás de respostas para superar o desafio sentimental. As horas seguem as dimensões da condição humana em seu dilacerante dilema: múltiplas trajetórias que o tempo imprime ao aflorar através dos sentidos, para não se desfazer dos momentos amorosos. Ruth Laus declara, “Nasce dentro de mim um tremendo duelo: o desejo persistente de ser amada e a incapacidade de me fazer amar”.

A inspiração chega com a vida em suas múltiplas escolhas e, uma delas, é de que somos “donos” do tempo ao reforçarmos os atos de amor. As escolhas provocam expectativas que provam ser a inspiração uma questão de atitude. Viver é atitude para recordar o merecido reconhecimento do amor, com licença para despertar no mundo em que as horas estão em nossas mãos. Mãos que tocam a alma na busca pelo equilíbrio do passado que dá lugar ao presente, não só na figura amorosa e carinhosa, mas que também é segura e decidida. Amores e amados se revelam na poesia, como demonstra Pedro Du Bois, “Amores //... bravo gesto alargado/ em verbos caricatos / de perfumes e cores // resta a palavra / na inconsequência / do dizer: cada passo / dado com você”.

Acredito no poder das palavras para viver o amor; sentimento que é bem vindo em nossas vidas por nos deixar desfrutar um tempo de liberdade. É forma de presenciar a hora na fragilidade com que deve ser tratada: desejos, sentidos e sentimentos no relacionamento. Pedro Du Bois retrata, “carrego no pulso o relógio / que me aprisiona / em horas determinadas... // Na determinação do tempo em ponteiros de engrenagens. / Conduzo a hora despercebida”.

O tempo ajuda a desfrutar o amor e reviver o passado e, ainda, cobra as relações e o tornar a sentir. Esse reverso nos leva a dedicar a vida ao outro como busca para incrementar as horas e despertar alguma reação pessoal. É atitude que restaura os amores versus horas, como no romance de Saul Bellow, “Tudo faz sentido. Do passado obscuro ao futuro incerto”.