NADA? ESSE É O SEGREDO

“São tantas as palavras amassadas em amarguras /

que até na Lua / se ouve o pranto desse mundo”

(Carmen Presotto)

Você não sabe dizer não. Está disponível para tudo. Na sua vida, tudo é nada. Entendo que a acusação é forte; ela revela exatamente o que você é: tem problemas em persuadir o homem ou se tornar irredutível à decisão de reagir com violência. Nas palavras de Lígia A. Leivas, ”... Essa tristeza recolho-a e a afago: / Só ela prova insofismável / de que neste real mundo demente / Somos todos simplesmente nada”.

Por que você não esquece o mal entendido e tira essa expressão sombria do rosto, que num impulso transforma em defesa? Impressiono-me com as pessoas que recuam quando se sentem ameaçadas e, em movimento automático, começam a sentir o coração borbulhar, tal as luzes de alerta piscando como força sobre-humana. Ainda, em Ivaldino Tasca, “... Muitas vezes diferença não há, a lenda é apenas a versão do fato que ganhou cor na imaginação...”

Vejo o caminho da agressividade como cópia da forma humana, onde a natureza clama por mais ação. Uma lástima não poder dizer que são apenas contratempos que os deixam exausto e, ao mesmo tempo, os revelam desiludido, quando a mentira cobre o seu pensamento dificultando a vida. Rubens Jardim expressa, “... Sou hostil ao tempo: / não uso relógio / e não suporto o mundo”. Carmen Presotto retrata, “... Ninguém é perfeito, e melhor é imaginar demências em outros. Enquanto borbulhamos cegas verdades, somos normais. Não fugimos e encaramos a realidade sem dramas...”

Sua ideia ocorre em desordem ao pensamento; muitas vezes, chega ao ponto de desvelar gestos mal encarados; com os olhos fixos e a voz áspera embriagando-se com o destino, assim, em Gregório Mattos, “... O meu ódio é mais valente, / pois sou só, e eles são tantos”.

Apesar de você não ter amigos, ainda assim, pensa em algo sombrio, que beira a maldade e a infelicidade, quando a bebida não permite que você partilhe os segredos. Então traz munição para olhar ao seu redor e se converter em espírito maligno, onde o pensamento se parte, rasga, quebra com o choque, quando puxa o gatilho das lembranças. Glauber Rocha demonstra, “Não anuncio cantos de paz / nem me interessam as flores do estilo. / Como por dia mil notícias amargas / que definem o mundo em que vivo. //... A minha loucura é a minha consciência / e a minha consciência está aqui. / No momento da verdade, / na hora da decisão, na luta... // Não se muda a história com lágrimas..."