DO UNIVERSO LÍRICO

A Metáfora é a princesa núbil da Poética. Sem a sua presença no texto não se configura a Poética, a qual açambarca a Poesia e a Prosa Poética. É consabido que sem as figuras de linguagem, especialmente a nossa subversiva, doce e inquieta princesa – aquela que subverte o genuíno significado dos vocábulos – o sentido conotativo das palavras não se corporifica no conjunto textual. Desta sorte, fica-se somente no trivial: o sentido denotativo. E então, como chegar universo lírico que inibe o mal, a dor e o injusto, que tem o condão transformador do cotidiano, vencendo a hostilidade que constrange e/ou oprime, inda que saibamos que a Poesia não se destina a interferir diretamente no plano fático ou o da realidade palpável. Mesmo que a linguagem em sentido denotativo possa nos levar – através da força das imagens exsurgidas no conjunto verbal – o registro verbal lavrado em versos (ou não) dificilmente conseguirá dotar-se do necessário “tonus” poético, a ponto de obter “corpus” imagético capaz de fundir-se num objeto estético visivelmente assentado num andamento rítmico, sendo este capaz de tonificar o universo poético recém-nato, entronizando-se no mundo dos fatos através de testamento lavrado através de significantes e significados. É necessário praticar o conúbio com a Palavra Anímica, produtora de imagens e sugestões para muito além daquilo que é dos domínios do mundo real. Urge copular intrinsecamente com ela todos os dias, não apenas acariciar momentaneamente o seu sexo por vezes hermafrodita. Da cópula tem de surgir a gravidez: o Estado de Poesia. E neste, a fêmea proativa e condignamente criativa é a Senhorita Metáfora – ninguém mais. Parece óbvio atentar que estamos falando de poesia dos altos patamares do humanismo universalista. De seus agregados adornos de exigências e zelos para com a humilde palavra e seus entornos na produção do Belo que alimenta e reverencia o humano ser. Há de haver plenitude de entendimento universal. E, em cada idioma, visto não sermos máquinas para produção em massa.

– Do livro inédito OFICINA DO VERSO – O Exercício do Sentir Poético, vol. 02, 2015/18.

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