A PROPOSTA POÉTICA

O "sentir", no qual a emoção prevalece, é somente o primeiro momento de criação – o da inspiração ou espontaneidade. No segundo momento, no qual prepondera a intelecção – o racional – a que chamo "transpiração", é o que vai dar a forma definitiva ao poema. Neste segundo momento, a intuição criativa a tudo refina, de modo a que o poeta-autor escolha as figuras de linguagem, especialmente as METÁFORAS. Através do uso delas na obra poética, configura-se o sentido CONOTATIVO. Neste, ressalta a sugestão contida na proposta poética, em oposição ao derramamento verbal, que apenas é, em regra, uma potente explosão vocabular que provém do estado emocional do poeta-autor. No poema da contemporaneidade, o requinte é a síntese verbal: poucas palavras e diversos sentidos para cada vocábulo. E é o poeta-leitor que fará o poema sair de dentro do ovo e respirar. Viverá, então, a partir dos olhos deste sobre a peça poética. O poema se faz com ação, não é somente o fruto de um estado de contemplação, e sim a materialidade da Poética que nasce deste exercício do sentir já travestido pela metáfora, e que resulta, no mínimo, numa sempre interessante peça estética. Todavia, como toda a matéria viva, há poemas que vêm ao mundo natimortos, porque desacompanhados do gênero rítmico do belo estético: a Poética.

– Do livro inédito A VERTENTE INSENSATA, 2017/18.

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