NÚMEROS: conexão e desafios

“rolam números sobre / a existência... /

de ubíqua equação se cobre / o coração...”

(Adriano Nunes)

Para que servem os números em nossas vidas? O que há para refletir sobre eles? O que os números e a vida têm em comum? Cada vez mais os números fazem conexão com nossas vidas e nos desafiam. Eles ganham “status” na hora da escolha, porque não há o certo ou o errado. Mantemo-nos num mundo individual e com os nossos sentimentos escolhemos recontar as nossas vidas, como demonstra Lêdo Ivo, “Ando sempre seguido / por vozes e cartazes // e minha mão segura // uma ficha com um número / de ordem e chamada. // Ninguém sabe meu nome. //.. no sonho ou no mercado sou simples estatística // Líquete, chapa ou ficha. //.. Com a ficha na mão // Mostro o cartão. // Provo que sou humano. //... o alto falante // me chama em toda a parte / por meus diversos nomes: // Ficha azul! Dezessete! // E, na fila do mundo, / um número entre os números, / avanço, logo existo”.

Existe a necessidade de juntar o sentimento com os números. A maneira mais adequada é levar em consideração o significado da palavra revelada pelo escritor. Ele aponta e incorpora em versos os algarismos, soma prazer e previsão, como revela Ziza de Araújo Trein, “Trinta e três anos / Idade simbólica! / “Idade de cristo” costumam dizer / Quando o homem em plena juventude / Também atinge plena maturidade, / Quando os ideais, os sonhos de menino / Não são mais sonhos, só realidade”. E Licurgo Costa descreve suas memórias no livro “Um homem três séculos”

O que os autores apontam em termos de numerais é o que a soma de suas palavras tem a dizer, quando abrem caminhos e conVersam com o leitor, ao compartilharem seus segredos e necessidades. Nesse sentido não importa qual é o número, mas é a revelação do segredo que conduz o encontro para a reflexão, como demonstra Chacal, “20 anos recolhidos”, e Gilberto Mendonça Teles, em “7 Resmungos”, “(sete vezes gritar o seu nome, / mas evitando abrir os seus segredos; / sete vezes acordar com fome, / roendo as unhas e lambendo os dedos)...” Suas ideias parecem paisagens que apenas o leitor avista e, na medida em que são enumeradas, descobre seus movimentos na elaboração de cada verso, como em José Enrique Barreiro, “Três motivos para não te amares”. Ainda, Ivaldino Tasca, conta a história dos “15 dias que abalaram Passo Fundo”.

Os poetas cultivam e criam palavras com as técnicas do tempo e as conjugam no passado, no presente e no futuro. Pairam dúvidas: o que o tempo dita sobre a inquietação? Quais as versões dos números que as guiam? Pedro Du Bois diz que, “Tempo // Apenas o minuto é rápido // os segredos / multiplicados / toques / alongam os sentidos”. Esta talvez, seja a principal reflexão e motivação que os números provocam nos escritores, desafiando suas inquietudes. Segundo Pedro Tozzeto Neto, “Existem três sentimentos que são importantes para a nossa vida: // a bondade, a alegria e a tristeza. // A tristeza ninguém gosta / A alegria vem sempre com uma coisa boa. // E fico com a bondade / ...pois mesmo triste ou alegre / você pode ser bondoso”.

Os escritores ao descreverem palavras exatas que precisam o tempo para existir, mostram que os números servem para nos conectar como fios da memória, quando há o sentido da vida, como demonstra Gilberto Cunha no ensaio O número 88. Então, podemos ler as sensações e as estações, os murmúrios e acreditar que tudo que vivemos e esquecemos, apenas lembramo-nos dos números como marco de tantas vezes, que ficou dos instantes do dia. Maria Alvim retrata, “Três pedras // uma casa / um cachorro / um poeta //responderão por mim”.

Os escritores enumeram em expressões e palavras. Sem sossego demonstram em incertos lampejos a luz da criação e a precisão da linguagem ao descreverem e amarem sem medida, quando revelam suas almas. Pedro Du Bois diz que aos números recontamos nossas vidas, ”Após cinco anos / em distanciamento crítico // a pergunta / que sobra dos anos / mil e novecentos // avião / foguete / AIDS / viagem à Lua / duas grandes guerras / Kennedy e Krushev / Hollywood / fast-food / computador pessoal / internet //exceto pelos últimos / o que mais sobrevive ao século?”