Poranduba Amazonense | Mitos e Lendas do Século XIX
Classificação Botânica Indígena.
Foram muitas as contribuições do botânico João Barbosa Rodrigues (1842 -1909), para o conhecimento da diversidade de plantas. Junto as análises, leituras e experimentos, Barbosa Rodrigues agregava aos seus estudos às observações dos nativos indígenas, e dessa maneira seguia com o método de classificação das plantas. No âmbito da ciência brasileira, ele defendia a importância da classificação botânica indígena (Etnobotânica).
Mitos e Lendas do Século XIX.
Poranduba Amazonense é uma coleção de mitos e lendas reunidos pelo botânico durante sua permanência como diretor do Museu Botânico, cargo que ocupou até a sua morte.
Sob o patrocínio do Barão de Capanema, Barbosa Rodrigues foi comissionado pelo Governo Brasileiro para explorar o Vale do Rio Amazonas, onde ficou por dois anos e meio (1872-1874), para ele, essa era a oportunidade para se consolidar como naturalista.
"Ele veio para cá com essa missão e se apaixonou pela Amazônia. Coletou vários mitos indígenas in loco, em nheengatu, e depois fez a transposição deles para o português. Também coletou lendas, cantigas e ainda fez um dicionário nheengatu-português", explica Tenório Telles, escritor e organizador da obra, resgatada 128 anos depois do lançamento da primeira edição. "Esse é um dos principais materiais de cultura popular do País".
"Desculpa os erros, mestre e amigo, perdoa a ousadia, Baptista (quantum habeo tibi do) e aceita este trabalho como uma grinalda de flores silvestres, que hoje deposito em teu jazigo, manteando o 5º aniversário de tua ida para a mansão dos justos." Trecho da dedicatório para Baptista Caetano D'Almeida Nogueira, o primeiro guaranylogo brasileiro, falecido no dia 21 de Dezembro de 1882. (Nota do Autor).
"O nome Poranduba que enlaça os contos deste livro serve de exemplo. Poranduba(*) não é mais que a contração da preposição poro, fazendo as funções do superlativo "andu", notícias, fantástico, ilusório, significando histórias fantásticas, fábulas, alusões.(...)
No Amazonas também existe a Maranduba, isto é, as história que os chefes contam para a tribo e aos filhos, perpetuando os feitos dos seus avós. Porém então, a interpretação é outra: vem de marã, desordem, barulho, guerra, e não fantásticos e mitológicos como as quais refere a Poranduba." Trecho do capítulo no qual Barbosa Rodrigues explica o título do livro.
O Korupira
No primeiro capítulo nos deparamos com a história do Curupira . Confira abaixo um trecho.
"Em outros lugares, também de Pernambuco, o Korupira, por ser uma exceção é representado por um pequeno gentio de cocar e fraldão de penas, armado e sempre de arco e flechas. Como melhor não descreveria o que é esse mito em Pernambuco, e quais os seus costumes e a sua índole, aqui reproduzo uma poesia popular, com que, de Recife, me obsequiou o meu amigo Dr. Regueira da Costa.
O Korupira
De dia não busca a estrada
o guerreiro Korupira,
porque dorme a sono solto
Á sombra da Sukupira.
Mas de noite, quando a lua
prateia as águas da fonte,
e a fresca brisa sussurra,
Ei-lo que surge de monte.
Montado n'uma quebrada
rompe do bosque a espessura;
da onça não teme as garras,
tendo três palmos de altura.
(...)
"Posto que atualmente desapareceu o nome do Korupira e fosse substituído pelo de Kaiçara, contudo ele existiu, como nos prova o venerável Padre Anchieta, quando nos disse em maio de 1550, que 'Chamam de Corupira que ataca muitas vezes os índios no mato, batem-lhes com açoites, machucando-os e matando-os. Por isso, os índios costumam deixar em um determinado caminho que vai ao mediterrâneo por ásperas brenhas, em todo o vórtice da montanha elevada, quando por ali passam, penas de pássaros, abanadores, flores e coisas semelhantes, como uma espécie de oblação, pedindo com instâncias aos corupiras que não façam nenhum mal.'"
O lançamento da atualização do livro aconteceu hoje às 10h da manhã.
Fontes | Site | www.acritica.com | Artigo "Saberes e práticas sobre plantas: a contribuição de Barbosa Rodrigues.