Após me meter na furada de levantar um debate sobre o caráter precário de editoras e editores no Brasil, é provável que eu só consiga publicar livros através de um mimeógrafo a partir de agora. Inevitavelmente, serei alvo de retaliações e boicotes. O problema é que faço barulho mesmo que editora nenhuma me abrace, um dom de quem sabe escrever. Ser gauche na vida envolve o ônus e o bônus, geralmente o ônus é mais intenso. Compreendo que muitos colegas fiquem ressentidos com as mazelas que estou desnudando, mas acredito que editores honestos, que possuem consciência da qualidade e do respeito pelo próprio trabalho, não deveriam ficar ofendidos. O interessante é que depois que despertei essa discussão, recebi dezenas de mensagens de autores que foram vítimas de golpes, calotes e que se sentiram desamparados ou extorquidos por editoras.

O mais chato é quem tenta me desqualificar afirmando que não entendo nada de mercado editorial, quem vem querer dizer que estou destilando frustração e raiva por supostamente não conseguir uma editora ou me aconselhando a buscar autopublicação como se eu fosse um pobre coitado sem eira nem beira. Talvez, eu entenda mais do fluxo editorial do que muitos que se dizem editores.

Não censuro quem escolhe a autopublicação, mas para mim não serve. Vejo a autopublicação como fazer do próprio trabalho uma espécie de souvenir para tentar sair vendendo de porta em porta. Outro ponto é que autopublicação é válida para quem pode gastar dinheiro. Não quero isso para mim e vejo como uma fase ultrapassada dentro do meu objetivo na escrita. Além disso, se eu fosse me autopublicar, procuraria uma gráfica. Perdoem-me aqueles que ficam chateados com isso.

O pior para um autor não é a mágoa de não conseguir espaço numa editora decente, o pior é o desrespeito, o descaso, a arrogância com que é tratado por um Zé Ninguém, muitas vezes medíocre, que se acha superior por ter a possibilidade de vetar ou não o projeto de vida de um artista ou de um escritor de qualquer gênero.

Vejo o tal mercado editorial como um antro, não é à toa que passamos a chamar de “mercado”. Corporações que cagam e andam para os autores ou pequenas e microempresas que escolhem agir como agiotas, tirando vantagem do sonho de alguém que quer ser publicado. Sobra para aturar os editores que ficam num xororó financeiro com quem os procura com um original nas mãos. Todos são assim? Claro que não, mas o que interessa aqui é denunciar as práticas ruins. Se eu precisar lançar livros mimeografados, lanço, mas não vou ficar em silêncio diante de um sistema que começa a parecer mafioso. Tenho experiência em nadar contra a corrente.

Lamento que escritores privilegiados pelo espaço que conquistam não tenham interesse ou coragem de juntar forças para questionarmos um cenário que é danoso para todos nós.
Alexandre Coslei
Enviado por Alexandre Coslei em 22/02/2018
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