ESPELHO
Para Nilto Maciel, “Escrever literatura é um gesto simbólico, que traz uma exigência: a de ser de qualidade. Literatura mediana é pior que a literatura ruim, pois mais do que esta, denuncia a falta de talento e a frivolidade... Portanto, todos são necessários, como na natureza: do verme ao leão”.
Vejo nesta chamada a opção, “Aberta a temporada de leituras prazerosas. O destino você escolhe: pode ser um romance de lavar a alma, uma história real inspiradora, páginas de reflexão...”; digo que não existe fórmula para ler, porém, o coração comanda a vida e magicamente “ouvimos” a sua voz para decidir qual caminho seguir para transformar o tempo e a solidão ao se espelhar no prazer de desbravar o mundo da poesia com W.J.Solha, Carmen Presotto, Mario Quintana, Júlio Perez, Benedito Cesar Silva e Carlos Pessoa Rosa; dos romances de lavar a alma como os de Mia Couto, Agostinho Both, Lêdo Ivo, Virgínia Wolff; dos causos de Miguel Guggiana, dos contos de Júlio Cortázar, Carlos Higgie, Ivaldino Tasca e Jorge Luis Borges; das crônicas de Rubem Braga e Clauder Arcanjo; dos ensaios de Gilberto Cunha, Sueli Gehlen Frosi e Paulo Monteiro . Tantos são os escritores, com seus fragmentos de sentimentos, a traduzirem a história em modalidades que espelham as entrelinhas na mesma intensidade com que a minha curiosidade é despertada pelas obras. Jaime Vaz Brasil reflete, “Sem os olhos quem veria a curva das entrelinhas // ou a frase que respira / na imagem que se adivinha?”
Noto que alguns autores/leitores espelham a cultura como literatura. Tentam mudar a vida com suas preferências que possibilitam diferentes interpretações: “cultura em rodízio”; “cabresto literário”; “intelecto lapidado”; “analfabetismo letrado”; “literatura menos se recebe e mais se procura”; “um livro clareia tudo e não pede nada em troca”. Ao ler tais expressões, reconheço-as como mensagens ideológicas que estão sendo absorvidas, atraídas e impregnadas, como cultura espelhada em nossos dias. W.J.Solha demonstra, “ ...Ser / E / não ser / são as duas mãos da estrada, o sobe – e – desce da escada, / o branco – e – preto da listra, / a mão direita e... / sinistra. // Bem e Mal – causas de adoração e nojo – são as / pistolas de duelo / em vice – versa no estojo”.
Agonia é saber que a “luta” para se chegar ao livro é iniciativa de quem quer repassar as refletidas palavras dos escritores e, assim, evitar não “morrer por dentro”; o que significa não desanimar e nem desistir da leitura para não ficar preso ao horizonte. E, assim, expandir e espelhar a literatura como compromisso cultural, com valores confessáveis de não ter medo da imaginação na hora da realização, por estar aberta à experimentação, sem resistência, como expressa Orídes Fontela, “tecem-se tempo / para um só ato / infindo”.
A iniciativa de quem se habilita ganha agilidade quando aposta no interesse intelectual, por exemplo: dicionário e livros literários à disposição para quem quer se deparar com o efeito das palavras, como demonstra Fernando Py, “... Também o tempo é imaginário / quando percorro a aventura de palavras. Que dicionário / registraria o seu perfil / parece uma audiência futuro / indiferente, quase hostil?”; e, Dana Stephan pergunta, “O que pode atrapalhar nosso grau de satisfação com a imagem refletida?”