Minha terra, meus amores: “Suspiros poéticos e saudades”, não os de Gonçalves de Magalhães, mas os de Ednete Franca
São 83 páginas de leitura prazerosa, muito prazerosa, de Minha terra, meus amores, de Ednete Franca. A psicologia teria muito a dizer sobre o fenômeno vivido pela escritora nascida em Boquim, mas cujo texto veste perfeitamente cada ser humano. Uma escrita de memórias, as mais queridas da autora e que tocará fundamente no íntimo de todos os seus conterrâneos. Cada um de nós, seja por onde for, tem uma Boquim e uma Fonte da Mata para relembrar e sonhar.
Ednete nos leva por um passeio entre o mítico e o fantástico, nos puxa pela mão e não dá a mínima chance de escaparmos da sua narrativa cheia de virtudes literárias, de metáforas, de imagens, de sons e de tons, de fatos, de locais e de pessoas. Terminei a leitura da obra sem me resolver se diria ser uma prosa poética, um poema ou uma canção. Penso agora ser um novo tipo de texto que tanto é prosa poética, quanto poema e igualmente música. É também um largo quadro, uma pintura que encerra a cidade de Boquim da juventude da escritora e a cidade de Boquim de sua idade adulta. É uma orquestra de anjos e pássaros executando uma peça musical às bordas da Fonte da Mata, assistida por Hermes Fontes e mais aquele pessoal todo do passado da escritora e que depois se encaminha para estes tempos, tão diversos daqueles outros.
A inspiração demonstrou um fôlego potente que se misturou ao vento, subindo e descendo ladeira, passando pela igreja, pelo colégio, por ruas e praças. Tanta coisa séria Ednete levanta em suas reminiscências, especialmente o profundo lamento por ver o desrespeito à história e à cultura de sua terra natal, de seus amados parentes, amigos e até dos que já se encontram ausentes, ou estejam em alguma Boquim nos céus, ou entranhada nos breus de sua fonte querida.
Ficam ecoando em meus ouvidos os sons do trem, das falas das pessoas na Estação de Boquim, o canto dos pássaros, o farfalhar dos laranjais nas tintas literárias de Ednete, as vozes dos seus personagens, figurantes de cenas comoventes. Fica o arfar de seu peito, aqui, em mim, admirada de tudo isto e das manhãs de sol e das noites enluaradas de Boquim.