Um Paciente Diferente

Em nossa terceira coluna da série Vilões Bíblicos, meus prezados leitores irei tratar de forma providencial o quadro psicológico do vilão em questão. Por intermédio dessa perspectiva pode analisar seu péssimo quadro mental diante dos fatos presentes e passados.

Mediante a perspectiva apresentada , sinalizar os possíveis caminhos de interpretação da vida de Caim, nesse aspecto ela nos favorece e ao mesmo tempo indica os erros de sua vida e as decisões precipitadas que por vez tomou, sem pensar nas consequências que viriam em um futuro distante.

Ultimamente pessoas vão e vem a um terapeuta estranho para buscar seus conselhos e orientações da sua sábia formação, o pouco que sei que ele é um terapeuta freudiano e que segue piamente essa linha dentro da psicologia, usualmente usa métodos pouco ortodoxos no atendimento dos pacientes, é um servo da Ciência, por essa razão não tem uma crença ou algo dessa natureza.

Menos dias e mais dias, em sua clínica entrou um paciente um tanto estranho ao habitual, meio suspeito parecia um bandido ou algo deste tipo. Mas em todo caso queria sua ajuda , o terapeuta não sabia ao certo que deveria fazer ou dizer.

Parado em pé , ele solicitou que Caim deitasse no divã, e lhe solicitou que falasse que falasse dos seus sonhos e suas muitas frustrações e do passado que sempre retorna ao presente de forma nublada. A forma nublada indica com certeza uma enorme quantidade de dúvidas e incertezas coexistentes em sua vida.

Assim disse o terapeuta: - Fale tudo agora sem dúvida!Nada deves esconder neste dia , pois sua vida pode piorar ou melhorar , dependerá do seu esforço como um todo , meu camarada. A sua decisão há de ampliar meu diagnóstico a teu respeito.

Caim começou a falar:- Caro , as lembranças são turvas como água suja, e merecem certo grau de atenção. O passado me perturba todos os dias em meu trabalho vivo como um alucinado, assim não tenho um pouco de sossego ou paz. Lembro-me que fora esquecido na vida , por todos e nunca bem recordado pelos pobres. A minha presença nada favorece o mundo.

Insistentemente, o terapeuta queria ouvir e anotar mais detalhes que lhe eram valiosos durante a sessão, como bom freudiano espetou o paciente com duras perguntas pessoais: -Quem lhe rejeitou? Quem esqueceu de você?Deveras contar me tudo que lhe ocorre durante anos e tempos.

Ele começa a relatar com certo cuidado: - A vida se esqueceu de mim como uma pessoa esforçada, porque luto pela humanidade, essa mesma que me esqueceu dias e noites, seus filhos e netos não merecem nem meu nome, que herança injusta.

Nem quero ser mais um na multidão conforme diz certa música mística, os deuses se esquecem de mim, fazem de mim um amaldiçoado pela terra , não me agradecem meu esforço. Para o mundo divino sou um rebelde sem causa justa que mereça atenção digna.

E o terapeuta interferiu calmamente:- Isso é o resultado de sua arrogância e do seu grande orgulho que nunca se apaga, e não aceitas essa verdade , parece-me que a revolta ocupou seu coração por inteiro, e ainda não aceitas o presente da vida que ganhou por justiça.

Temes o futuro que lhe espreita e a noite temes a morte, que de sorte ainda não quer vê-lo, és ferido pelo passado como uma flecha no coração, preferes então viver nas sombras, pois elas te escondem dos seus medos e frustrações passadas.

Diariamente sofres sem saber o motivo real de tudo que acontece , na verdade só são metáforas da existência que lhe castiga sem entendimento do nada , ora pense em tudo, você não merece esse tudo em sofrimento.

Infelizmente nada lhe disse mais e terminou a sessão, Caim foi ao bar mais próximo encher a cara com bebidas e bebidas, como qualquer um em sua situação faria , assombrado com a sessão passada ainda queria respostas as suas perguntas sendo muitas e pouco tempo para tudo que queria saber.

Fugir parecia ser uma boa saída para os indecisos e confusos, ele não fugiu como desejava. O dia nasceu, e voltou a clínica sem demora e redescobrir o mundo que não conhecia por meio daquele terapeuta estranho podemos assim dizer, a fuga não é a resposta certa.

E ao subir as escadas da clínica, pensou em tudo que já tinha ouvido por aquele terapeuta misterioso para o cidadão e operário Caim, sua realidade era igual ao demais homens da cidade que estava morando. Ser um operário mais um em uma enorme empresa, sem uma pista digna, era mais uma cartada ao baralho do Destino. Era um ser sem nada e com tudo, ele tinha progresso e sucesso, sem um fio de biografia digna, com um cão vira-lata na avenida.

Realmente, caro leitor, ele temia ouvir mais algo que afetasse as origens tão assombrosas, por onde andava a justiça das dúvidas e o carinho da atenção. O terapeuta era agudo e direto em suas críticas perguntas sobre e para Caim, um operário e com os operários.

E negar o Destino era o desejo de Caim, em um Mundo Líquido de acordo com Bauman, mas ele não conhecia Caim o sujeito central dessa narrativa curta e longa depende de quem vê. Caim fala outra vez ao terapeuta: - Ninguém é culpado do caminho do Destino, e da morte como uma outra existência, sem interferência dos outros. A visão alheia atrapalha a vida perde-se a centralidade. As folhas da vida se secam sem parar.

Negar é aceitar de todos as decisões que pais e amigos decidem para o futuro , mas as dúvidas sempre ressurgem do nada, já aceitei muito perder detalhes da vida que se conjugam com a morte, prezado ouvinte o saber é morrer, ma mentalidade também morre com o sujeito quando morre. Eu penso desta forma , caro terapeuta.

Tememos o futuro, e animamos os presentes ampliados segundo Hans Gumbrecht, aqui termino minha curta e expressiva visão da vida e do mundo. O terapeuta se calou por um bom tempo e leu tudo que tinha anotado em seu pequeno caderno. Parece que todas sessões terminaram, o futuro ainda não chegou, e o presente se ampliou em horas e tempos, era incomum ou fora do comum o paciente Caim, o paciente estava tanto no passado da humanidade e como no presente inclemente.

E assim o humilde operário saiu da sala, e foi para o ponto, lendo 'A Minha Luta' de Hitler, pode parecer uma pequena ironia sinfônica na vida de Caim, ler um pior do que ele, era uma inspiração para a vida futura. E nada se resolveu acerca da vida presente somente do passado, ora o que realmente importa? A ironia reside nesse detalhe. Muitas informações ele evitou contar ao terapeuta, pois achava que era mais um risco a correr e um desafio a passar.

JessePensador
Enviado por JessePensador em 14/08/2017
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