O TEAR DAS EMOÇÕES

Talvez seja por acreditar na necessária evolução, que o ser humano faz da Poesia a sua clava de rendição incondicional. Ao menos na parte em que a Poética é o despudor da intelecção. Vale dizer, justo no primeiro momento da criação literária, porque no segundo, aquele em que a lucidez se apropria da razão e fala por ela, já estamos contidos em nossa loucura de querer mudar o mundo num toque de mágica. O momento aflitivo anterior ao nascimento dos versos nós já sentíramos: o corpo dói por dentro; os olhos falam a sua peculiar linguagem que se derrama na face salgando a boca; o dia seguinte não nos reserva perspectivas e ficamos atônitos; para onde o ser humano vai? O estar no mundo parece sem sentido. Do nada, o absurdo em nosso derredor. Naquele instante apercebemo-nos que sentir-se solitário é bem mais além do que se estar sozinho. É a sensação do absoluto niilismo. E nem se consegue, a rigor, explicar as razões de tal estado ou inopinada sensação. Quando o poema nasce, o seu espelhar-se é a urdidura dos fios da emoção: insólita e solitária senhora do destino, que a tudo tece e comanda. O todo que promana em preclaro e humilde estágio de consciência da condição humana. É quando o ser é apenas a máquina do sentir. Neste instante, estamos de mãos dadas com o Absoluto. É quando vemos que a palavra, tão pequena, pode ser infinita...

– Do livro A PALAVRA INSENSATA, 2017.

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