CASA DE CRISTANDADE

Não gosto de ver, ouvir, sentir, presenciar ou constatar os lamentos dolorosos que povoam a imensa solidão personal. E esta, dificilmente é confidente. O outro se sente amarrado, impotente para a felicidade. Nenhum amar é inútil. Este sentir (exercitado) é que nos faz úteis e humanos. Assim como não há nada de maior inutilidade do que a Poética, no entanto, sem ela é impossível viver, pois necessária à individuação espiritual. Estou convencido de que o amar é que nos faz verdadeiramente humanos. Poesia é amorosa casa com falso endereço. Nela tudo é fictício, farsa, fantasia, sonho. Amada, não é a chave de tua morada a que me ofereces, e sim a chave de ti mesma enquanto casa de cristandade. E por me saber responsável é que vou tateando e dialogando com os teus diabinhos possessivos, a fim de saber se haveria como fruir alguns momentos de felicidade. Pois, ao que saiba, no conviver nada é permanente. Mas isso não se dá na horizontal, e sim no prumo vertical. A cada vez que vejo a possessão absurda e o espiritual dilacerado, tenho dúvidas quanto ao futuro. Os frutos sazonam-se no tempo. Tudo para a colheita. Mais: a vida se torna banal sem o amar. Por esta razão é que ainda sonhamos com a vertical, mormente quando fisicamente distantes. É o doer no corpo, a partir do medo de perder. Somado ao temor de se achar no outro, porque aí não há mais volta. Não choramingues. Prepara-te para o instante do reencontro. E não tenhas medo da espera. Dia desses nos acharemos no DNA do outro. A partir disto, seremos cristicamente unos. Ou seríamos únicos? Desde a singela e humilde palavra.

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015/17.

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