HÁ LIBERDADE?

Há liberdade em nossos dias? Ou é no movimento livre que o Sol nasce para moldar as formas das sombras. Para Carlos Drummond de Andrade, “O bom é... flutuação sem rumo a não ser do vento, em barco sem barqueiro”. Invertemos a perspectiva e descobrimos novo jeito de somar forças e disputar opiniões, para encontrar na diferença de pensar a liberdade como definição, solução e realização.

Há vários caminhos para buscar a liberdade, e a palavra é das vias mais importantes, porque é de mão dupla: de um lado a palavra é a fala, aquela que desenvolve a imaginação e, do outro, a significação que cada um atribui à palavra. Mário Chamie reflete, “... e o peso da palavra, / que, mal falada, / não dizia / o que dizendo, calava”.

Há liberdade no risco que desliza na tela unindo céu e mar; no papel que expressa a pedra iluminada; na imaginação que desperta o sonho e os sentidos que nos definem. Ela renova o querer, a essência e a palavra na sua irradiação. É tudo o que temos, sem ela seríamos estátuas: obscuridade sem destino, sem lucidez, sem cor e sem a hora do momento. Cada um atribui significado diverso à liberdade, baseado em nossas decisões como imagem construída sobre a história. Oscar Niemayer expressa, “A beleza precisa ser inventada”; Fernando Pessoa, “Viver não é necessário, o que é necessário é criar” e Mia Couto, “Viver? Ora, viver é cumprir os sonhos, esperar notícias”. Não se pode ignorar a dimensão emocional das definições sobre a liberdade e de suas fantasias sobre os desejos e ansiedades.

Há verdade no caminho que nos leva à liberdade de gritar os nomes; sorrir; mergulhar no voo da brisa e, assim, vivermos os dias entre a luz e o destino. Sobre o tema, encontro significados nas obras, Palavra Engajada, de Ronaldo Cagiano e, Poucas Palavras, de Pedro Du Bois, em que eles expressam a liberdade, transformada em inspiração, que ultrapassa as fronteiras do cotidiano.

Há a decisão para nos reconhecermos como autores de nossas vidas; assim alcançamos a liberdade que nos encoraja a recolher os pedaços dos conflitos em meio aos domínios e que nos permitem sair da nossa (in)apropriada sombra. É o coração que guarda a liberdade, memorizada no mistério dos sentimentos. Nas palavras de Oscar Wilde, “A vantagem das emoções é que elas nos / desencaminham”.

Há a liberdade que nos contagia, sobre a qual o dia desliza. Há nossa voz como folhas ao vento. Há a palavra que nos completa. Há a luz para enfrentar as sombras, onde a nossa consciência se espalha. Há lembranças no avesso das nossas vozes, como algo além da paisagem, da promessa e da conversa. Foed Castro Chamma escreve, “... onde habita a voz o encanto habita...”. Encontro a liberdade em Concerto A Quatro Vozes, coletânea poética; em Adriano Espíndola, com A Voz do Urbe; com Antônio Cícero n’A Voz de Eros; em Marco Luchesi, com A Voz do Deserto e, também, em Salgado Maranhão, com A Voz Solar.

Ao encontrarmos a nossa voz, passamos a viver para sermos protagonistas e para sentirmos o amanhã na antecipação das imagens; não mais fugimos à responsabilidade por ela imposta; não mais nos impedimos às mudanças. Em cada pulsação nos permitimos recomeçar a vida em liberdade, onde podemos protagonizar o nosso enredo.