110 anos de Drácula

“O conceito que temos hoje de vampiro se originou de um único livro”. Quando o locutor do documentário “Vampiros – A sede pela verdade” (Discovery Channel, 2006) afirma isso está se referindo a Drácula, obra do escritor irlandês radicado em Londres Abraham “Bram” Stoker, publicada em maio de 1897.

Ao escrever Drácula, Stoker pesquisou muito, eis que lendas e mitos sobre vampiros fazem parte do imaginário dos povos há pelo menos quatro mil anos. Inicialmente o livro seria intitulado Os Mortos Vivos e a personagem principal seria chamada de Conde Vampyr. Entretanto, os estudos do autor o levaram a uma figura histórica romena, príncipe das regiões da Transilvânia e Valáquia, que personificava uma dessas lendas: Vlad Drácula, o Empalador.

Segundo consta, o nobre e militar, herói nacional da guerra entre turcos islâmicos e europeus cristãos no século XV, tinha a fama de empalar em estacas de madeira seus adversários internos e externos e, depois, comer pão embebido no sangue destes. O nome Drácula, todavia, não se refere a palavra vampiro, mas sim a Ordem do Dragão, título que seu pai, Vlad Dracul, recebera. O “a” final de seu sobrenome significava que ele era filho de um membro da ordem.

Ambientando a história em Londres e na Romênia, Stoker usou Drácula como nome do livro e de seu personagem principal, inspirando-se não literalmente na biografia do príncipe. Trata-se de uma obra prima que, curiosamente, não rendeu sucesso e dinheiro ao seu autor quando lançada. Drácula é escrito de forma epistolar, ou seja, não há um narrador único, mas sim vários, por meio de diários, cartas, telegramas e notícias de jornal que são expostos sucessivamente ao longo do volume.

Nos primeiros quatro capítulos, temos o diário do jovem advogado Jonatham Harker, que vai à Romênia concretizar transações com um conde interessado em propriedades londrinas. Neles Drácula aparece em todas as páginas, para depois sumir no restante do livro, reaparecendo apenas nos capítulos finais. O recheio é centrado pela caça ao conde por, dentre outros, a noiva de Hatker, Mina Murray, e o professor Abraham Van Helsing, que completam o quadro de personagens principais de uma trama onde ciência e sobrenatural dialogam entre si, com teorias e recursos tecnológicos modernos à época sendo utilizados nas ações. Arrisco a dizer que Stoker foi uma espécie de Dan Brown de seu tempo, sem a fama e a grana do último.

Mas a viúva do escritor, a atriz Florence Balcombe (que, antes de casar com Stoker, foi cortejada pelo escritor Oscar Wilde), teve melhor sorte: em 1922, dez anos após o falecimento do marido, Drácula foi filmado, sob o nome de Nosferatu e, novamente em 1927, com o título de Londres Depois da Meia Noite. Em 1931 nova adaptação, com o conde interpretado por Bela Lugosi. Ao longo do século XX, cerca de quinhentos filmes de vampiro foram realizados, dentre eles: Drácula, o Vampiro da Noite (1958, com Christopher Lee e Peter Cushing) e Drácula de Bram Stoker (1992, de Francis Ford Coppola, com Gary Oldman, Keanu Reeves, Anthony Hopkins, Winona Rydder e a ultralinda Monica Bellucci).

Entretanto, nenhum desses filmes é totalmente fiel ao livro (o de Coppola é o que mais se aproxima), eis que, invariavelmente, inserem histórias de amor inexistentes no original. Nada se compara à leitura do livro. Essa edição comentada da Zahar, cuja capa ilustra esse artigo, é uma boa pedida.


Texto publicado no jornal Portal de Notícias, versões online e imporessa: http://www.portaldenoticias.com.br