PURPURINA LITERÁRIA
Esta semana, li um autor contanto que se negou a atender a uma blogueira que solicitava um dos seus livros para resenhar, ele justificava a recusa dizendo que não podia assumir o custo de doar um livro para uma pessoa sem visibilidade nas mídias. Nos comentários, os caçadores de sucesso aplaudiam a atitude. Num país de analfabetos funcionais e absolutos, é um luxo encontrar leitores, mesmo que sejam blogueiros atrás de doações. O custo maior e real é não ter leitores ou empurrar o livro apenas para cidadãos desinteressados, mas com visibilidade nas mídias. Do que vivem as pequenas editoras, por exemplo? Sobrevivem, na maior parte, da compra dos próprios autores. A literatura visível no Brasil é um nicho reduzidíssimo que, muitas vezes, não é ocupado por escritores de vocação nem de qualidade. Querer distribuir livros somente para personagens que atraiam holofotes é a comprovação do escritor medíocre, que se comporta como mascate num mercado de pulgas.
Quem escreve com a intenção de publicar um livro sente a irrefreável atração de entrar numa corrida frenética por autopublicidade. É o mal do século. Não que isso seja condenável, age-se assim pela obrigação de vender o próprio trabalho, alcançando algum patamar que traga reconhecimento. E é aí que acontece a contaminação, o reconhecimento já não é, necessariamente, um fruto maduro do talento, ele surge das cifras comerciais, do número de vezes em que se aparece na mídia, nas feiras e em festivais glamourosos para os quais se cava um convite, vem da capacidade de construir uma network eficiente. A escrita contemporânea está mais para uma atividade de marketing pessoal do que para um sacerdócio ligado à arte.
Provavelmente, todos as deformações que atingem a literatura brotam de uma explicação simples, é um ofício que não exige cabedal. É a expressão pura, tanto pode ser bruta como refinada. Com o advento da Internet, de programas como o Word, escreve-se um livro em pé, pelo celular, numa viagem de ônibus do subúrbio até a Central do Brasil, e é possível que a situação sirva como propaganda para torná-lo best-seller.
Desde que minhas resenhas apareceram em páginas de autores como Carola Saavedra, Antônio Torres, Raimundo Carrero e outros, recebo muitos livros. Leio todos. São escritores buscando compartilhar sua produção com outro escritor, que leram em algum lugar e encontraram eco nas ideias. Nem sempre consigo retornar no tempo que esperam, pois elaboro resenhas não remunerados que exigem dedicação. Talvez, eu não possua tanta visibilidade, como exigem os autores publicitários, mas tenho a credibilidade construída com perspectiva na arte, no pensamento.
Não sigo padrões, por isso não escrevo em jornais como o Rascunho e outras publicações do gênero, a normatização aleija a criatividade em nome de uma hermenêutica crítica que não me atrai. Não busco purpurina literária. Prefiro continuar assim, com visibilidade modesta, que não atraia cabotinos nem corrompa meus princípios sobre o ato da criação. A intenção é interagir com artesãos da palavra, jamais servir de outdoor. Quem escreve para o comércio e para a fama não faz literatura, monta cardápio.
Esta semana, li um autor contanto que se negou a atender a uma blogueira que solicitava um dos seus livros para resenhar, ele justificava a recusa dizendo que não podia assumir o custo de doar um livro para uma pessoa sem visibilidade nas mídias. Nos comentários, os caçadores de sucesso aplaudiam a atitude. Num país de analfabetos funcionais e absolutos, é um luxo encontrar leitores, mesmo que sejam blogueiros atrás de doações. O custo maior e real é não ter leitores ou empurrar o livro apenas para cidadãos desinteressados, mas com visibilidade nas mídias. Do que vivem as pequenas editoras, por exemplo? Sobrevivem, na maior parte, da compra dos próprios autores. A literatura visível no Brasil é um nicho reduzidíssimo que, muitas vezes, não é ocupado por escritores de vocação nem de qualidade. Querer distribuir livros somente para personagens que atraiam holofotes é a comprovação do escritor medíocre, que se comporta como mascate num mercado de pulgas.
Quem escreve com a intenção de publicar um livro sente a irrefreável atração de entrar numa corrida frenética por autopublicidade. É o mal do século. Não que isso seja condenável, age-se assim pela obrigação de vender o próprio trabalho, alcançando algum patamar que traga reconhecimento. E é aí que acontece a contaminação, o reconhecimento já não é, necessariamente, um fruto maduro do talento, ele surge das cifras comerciais, do número de vezes em que se aparece na mídia, nas feiras e em festivais glamourosos para os quais se cava um convite, vem da capacidade de construir uma network eficiente. A escrita contemporânea está mais para uma atividade de marketing pessoal do que para um sacerdócio ligado à arte.
Provavelmente, todos as deformações que atingem a literatura brotam de uma explicação simples, é um ofício que não exige cabedal. É a expressão pura, tanto pode ser bruta como refinada. Com o advento da Internet, de programas como o Word, escreve-se um livro em pé, pelo celular, numa viagem de ônibus do subúrbio até a Central do Brasil, e é possível que a situação sirva como propaganda para torná-lo best-seller.
Desde que minhas resenhas apareceram em páginas de autores como Carola Saavedra, Antônio Torres, Raimundo Carrero e outros, recebo muitos livros. Leio todos. São escritores buscando compartilhar sua produção com outro escritor, que leram em algum lugar e encontraram eco nas ideias. Nem sempre consigo retornar no tempo que esperam, pois elaboro resenhas não remunerados que exigem dedicação. Talvez, eu não possua tanta visibilidade, como exigem os autores publicitários, mas tenho a credibilidade construída com perspectiva na arte, no pensamento.
Não sigo padrões, por isso não escrevo em jornais como o Rascunho e outras publicações do gênero, a normatização aleija a criatividade em nome de uma hermenêutica crítica que não me atrai. Não busco purpurina literária. Prefiro continuar assim, com visibilidade modesta, que não atraia cabotinos nem corrompa meus princípios sobre o ato da criação. A intenção é interagir com artesãos da palavra, jamais servir de outdoor. Quem escreve para o comércio e para a fama não faz literatura, monta cardápio.