O REGRESSO

“Aprendo a voltar / e me perco / em recordações: / os passados / petrificados / em passos / os retornos / fechados / em acasos // aprendo ser a volta / pior encontro // o rasgo instantâneo / do corpo / ao mistério” (Pedro Du Bois)

O desafio em voltar está em entender as razões que me levaram embora, e as dificuldades que atravesso em sucessivas horas, como as palavras do poeta à epígrafe. Nesse desassossego encontro a voz que representa o arrependimento e os desacertos. Então, sigo na esperança de que as lembranças, os gritos, o silêncio e as palavras retornem na certeza do caminho a ser trilhado; como em Maria Hilda De J. Alão, “... voltaste, confiante do perdão, para o ninho, / antes desprezado.../ encontraste-me diferente, / pois encontrei a paz de espírito perdida, / e fiz da razão meu baluarte de vida...”

Ao regressar estendo os passos e os transcrevo em palavras: o beijo, a saudade, a voz, o olhar e as folhas de outono. Porém, trago as incertezas, os endereços desaparecidos, as janelas vazias e as portas fechadas. Começo aprender a voltar, quando me vejo cercada da poeira que simboliza o tempo e a lembrança trazidos pelo vento. Segundo Luiz Fernandes da Silva, “Trago dentro de mim / o eco de todas as tuas palavras / e as cicatrizes de tuas lembranças. //... Trago dentro de mim / o teu retrato amarelado / dentro do álbum / onde estão presos / os nossos remorsos / e a esperança...”

A volta aumenta a minha sensação desconexa, porque não vejo, não escuto, mas sinto a luz e o vento em contentes momentos de reencontro na descoberta do sentido da vida: o amor.

Percebo que regresso de caminhos variados: distância, sentimento, atraso, passagem, persistência e verdade, que o reencontro é imagens trazidas comigo, projetadas de dentro para fora e reveladas no momento da entrega.

Posso na liberdade da escolha, ter a certeza de repetir os fatos e voltar para onde enredei o amor na lembrança, e cristalizei os motivos que me fizeram regressar à vida. Em passos silenciosos, recorro ao tempo para encurtar a distância e seguir o caminho traçado para o regresso. Nas palavras de Benedito C. Silva, “Confesso / Passei do tom. / Exagerei. / Errei a hora - / Você me deixou! / Agora, / Espero ansiosamente pela sua volta!”. Encontro em Pedro Maciel, “Retornar com os Pássaros”, é um romance que foge a estrutura convencional, “ ...Vislumbro coisas invisíveis. Quero o que era infinito. Retorno com os pássaros...Nem sempre regresso de minhas viagens”.