A LITERATURA E A REALIDADE
Quando Oscar Wilder diz que um grande artista não vê as coisas como elas são, caso contrário, não poderia ser considerado, um grande artista , conclui -se dessa afirmativa que a arte, especificamente, a literatura, é capaz de captar o real e transformá-lo em algo que dar ao leitor a possibilidade de múltiplas interpretações, tornando aquela história fictícia em várias possibilidades de construção de enredos que venham se organizarem através da percepção do leitor, fazendo com que esse leitor possa dar diferentes rumos aqueles personagens e as suas vivências, de acordo com que aquele trabalho artístico-literário apresenta.
Terry Eagleton, em sua Teoria da Literatura, fala do discurso " não-pragmático" referindo-se a linguagem que fala de si mesma. Ou seja,trata-se da maneira de falar, não na realidade daquilo que se fala. Pois assim, o leitor, ao ler uma obra literária, poderá encontrar elementos subjetivos, ligados ,inicialmente, a estrutura narrativa, a perspectiva de uma linguagem que o autor sempre tem possibilidade de criar e recriar;porém, caberá ao leitor,compreender a intenção do autor, em relação aos elementos que a palavra pode definir, e identificasse com esses elementos, daí,terá capacidade de interpretar essa obra literária, de forma, que na sua visão, aqueles acontecimentos, aparentemente sem uma conexão com o mundo real, possam ser associados a comportamentos ou situações da sua vida diária.
Salvatore D´Nofrio vai reforçar esse ponto de vista sobre literatura e realidade, quando defende a ideia que uma obra de arte, por não relacionar -se diretamente com o mundo exterior, não é verdadeira, mas possui, a equivalência da verdade, que pode indicar o poder ser; isso significa dizer: o leitor ao entrar em contato com uma obra, ler um romance, por exemplo, estará aberto para aquele universo que lhe foi apresentado,em uma troca de informações que vai permitir um diálogo entre sua observação , conceitos e experiência de mundo com a proposta artística, psicológica e existencial do escritor; como também, o entendimento de associar as nuances daquela obra a uma realidade que o referido leitor estava habituado a perceber.
Leila Perrone - Moisés, no ensaio, Criação Literária, afirma que uma obra literária só existe de fato e indefinidamente, enquanto recriada pela leitura, ofício que deve ser tão ativo quanto a do escritor.
Com isso, a autora chama a atenção para um abertura estimulante que convida o leitor a prosseguir uma obra, que mesmo criada por um determinado artista, à revelia da sua vontade, mas que no entanto, ele terá oportunidade de participar dela, não apenas como um observador passivo,mas alguém que possa influenciar, na sua concepção interpretativa,da formação daquela história,na sua mensagem e na conclusão dos fatos daquela obra artística - literária.
Portanto , a literatura - mais do que qualquer outra arte - possui esse poderoso recurso, o de dar ao leitor, a oportunidade de compreender uma obra artística,segundo sua maneira de vê o mundo e a identificação, em relação aos seus anseios e sentimentos, que ele encontrará nela.E sendo assim, a participação do leitor na interpretação de um trabalho literário dá-se devido ao próprio universo artístico, onde escritor - leitor dão sua colaboração para a criação e a recriação de determinada obra, e todos saem enriquecidos artisticamente, intelectualmente e espiritualmente, dessa experiencia tão agradável: criação e leitura.Literatura e a realidade.