O ATRASO... (II)

“... O tempo? inclemente / pesando / na mente...” (Antônio C. Osório)

Escolher ser feliz nas pequenas coisas, no dia a dia, todos os dias, é encontrar a forma de não se atrasar, porque a vida é processo contínuo de trocas. Isso significa muitas coisas; se pudermos valorizar a importância em cultivar os interesses pessoais, em estar disponível, então o combinado é o acertado, sem atraso. Mas, às vezes, os desafios se avolumam à nossa frente que, por muitas vezes, nos atrasamos para os compromissos.

O atraso é falta e só depende da vontade que podemos encontrar em nós para que não aconteça, pois, como diz Paulo Leminski, “em cima / da hora / tudo piora”.

Se não cumprimos com os compromissos, nas horas marcadas, ficamos com a falsa impressão de melhorar o nosso tempo, como em Luiz Otávio Oliani, “O tempo não se rende / a nada que o prenda // embora não corra / abocanha os homens / silenciosamente”.

Que tal revermos em que prevalece o atraso, que se mantém em nossas vidas no dia a dia? Isso significa muitos atrasos, como o dos pais que chegam tarde para o jantar e, mesmo assim, as crianças ficam felizes ao vê-lo em casa.

As noivas organizam seus casamentos de acordo com seus estilos e gostos, marcam a hora mais apropriada para a realização e, quando chega o momento sagrado... se atrasam.

Médicos, profissionais que valorizam seu trabalho, telefonam aos pacientes confirmando dia e hora da consulta; de nada adianta, quando chegamos ao consultório, o atraso é confirmado.

Vamos viajar! Compramos a passagem dia tal/tal hora; com entusiasmo fazemos o chek-in em casa. Ao chegarmos ao aeroporto, o desânimo sobressai porque o voo está atrasado.

A hora marcada no salão de beleza, mas, a cliente anterior se atrasou, o que atrasará os atendimentos nos demais horários. A beleza está em lermos para passar o tempo, prazerosamente, sem nos incomodar com a espera adicional. Encontro revista com chamadas para o espetáculo, com informações sobre ingressos, dia e hora; para variar, não honram o horário previsto para começar o show.

O atacante, no futebol, após a armação da jogada pelos companheiros, chega atrasado para a conclusão do lance e perde o gol. Os torcedores choram.

No amor, quando resolvemos nos declarar, muitas vezes, é tarde demais. A indecisão foi o obstáculo. Não assumirmos as fraquezas abertamente e corremos o risco da perda pelo atraso. Nas palavras de Luiz Otávio Oliani, “as horas voam / e me perco / entre os ponteiros do relógio...”

Erasmo Carlos, na música Coqueiro Verde, revela o atraso de Narinha, “Em frente coqueiro verde / Esperei uma eternidade / Já fumei um cigarro e meio / E Narinha não veio // Como diz / Leila Diniz / O homem tem que ser durão / Se ela não chegar agora / Não precisa chegar...”

Assim, a vida moderna é sinônimo de atraso. Agendas cheias, precisamos criar estratégias para minimizar o nosso tempo ao assumirmos horários e compromissos.

Um dia, escolheremos ser felizes enquanto abraçamos os filhos, visitamos os parentes e amigos, amamos o parceiro. Ou talvez possamos simplesmente honrar os horários, sem atraso.