Poeta cria coletivo com 330 escritoras em Curitiba e prepara lançamentos
Surgem ao redor do Brasil projetos de valorização das mulheres escritoras, a começar pelo autorreconhecimento. Em Curitiba, no Paraná, a poeta Andréia Carvalho Gavita, 43, está há três anos elaborando uma lista de autoras da cidade como parte dessa missão.
Até agora, elencou 330, mas não param de chegar sugestões de novos nomes. A iniciativa animou as novatas no ramo. "A maioria das mulheres com quem entrei em contato passou a mostrar os textos escondidos na gaveta", disse à Folha.
O primeiro objetivo é estimular que elas mesmas se denominem escritoras –no grupo havia até quem publicasse sob pseudônimo masculino. "Ainda falta a mulher perder o receio de se assumir."
Da catalogação de escritoras curitibanas surgiu o Coletivo Marianas e o selo Marianas Edições, que já publicou dez livros entre as autoras e prepara mais 11 lançamentos para 8/3, Dia da Mulher.
BRASIL
Além de realizar saraus mensais, o grupo pretende agora ampliar sua página na internet a exemplo do que foi feito na Bahia. Isso porque no portal escritorasdabahia.com.br estão não apenas os nomes das escritoras mapeadas no Estado, mas também perfis com foto, trechos de obra, críticas e ensaios sobre elas.
Criado em Minas Gerais, o Escritoras Suicidas congrega textos de mulheres e homens com pseudônimo feminino para questionar o preconceito ainda existente contra a "escrita feminina". O resultado é que ninguém sabe diferenciar os textos. "Surgiu como uma brincadeira leve, mas descobrimos que o mundo literário dá importância descabida ao gênero de quem escreve", diz a editora Silvana Guimarães.
Em Porto Alegre (RS), o blog Veredas, da jornalista Priscila Pasko, apresenta e discute literatura produzida por mulheres. Divulgou, por exemplo, a tese "Mulheres Escritas por Mulheres: Personagens Femininas no Romance Brasileiro Contemporâneo", em que a pesquisadora Camila Doval conclui que, apesar de tanto esforço, a representação que as mulheres fazem de seu gênero ainda não contribui para a emancipação feminina. "Mas vivemos um feliz momento, em que muitas mulheres estão escrevendo e publicando", pondera Priscila.
A lista de autoras curitibanas elaborada por Andréia é bastante democrática, sem curadoria, e reúne desde iniciantes até consagradas, como a poeta Alice Ruiz, viúva de Paulo Leminski.
COMBATIVO
Assionara Souza, 47, é uma das mais empolgadas com o ofício na cidade, indo para o sexto livro publicado. Quando organizou uma antologia de autores paranaenses ("Translações "" Literatura em Trânsito", Ed. Arte & Letra, 2014), fez questão de incluir mais mulheres que homens.
Mas a busca por espaço não necessariamente se traduz em obras combativas ou que abordem questões de gênero. "Não quero ser obrigada a escrever sob esse ponto de vista", desabafa Carol Sakura, 31, que se interessa pelo universo fantástico e tem publicado o livro infantil "Anacleto, o Balão". "Isso também é feminista: poder falar do que eu quiser."
Espécie de mentora para todas elas, a professora Luci Collin, 52, finalista do Prêmio Oceanos em 2015, considera que as autoras curitibanas "escrevem sobre tudo", contrariando o lugar comum de que a mulher só fala sobre maternidade ou questões de gênero. Especialista em Gertrude Stein, ela tem 17 livros publicados.