Prefácio da obra "São Gonçalo: Fragmentos da História", de Josemar Alves Soares
Quem não gostaria de escrever algo sobre a terra em que nasceu, foi criado e se tornou gente? Quantos adquirem coragem para realizar tal proeza? Talvez poucos, pois para muitos, esse desafio se constitui numa tarefa quase impossível.
Josemar Alves afundou-se, pois, na missão de produzir São Gonçalo: Fragmentos da História e realizou um grande sonho pessoal. Para isso, utilizou estratégias eficientes, como a exploração de fontes bibliográficas disponíveis, observação direta de ambientes, instituições, obras de engenharia e, principalmente, muitos contatos com pessoas, algumas delas, testemunhas presenciais da história narrada.
Sem dúvida, trata-se de sua obra mais ambiciosa, resultante de meses de estudos e dedicação, para tornar compreensível, por meio de uma explanação histórico-ilustrativa, a trajetória do surgimento, no coração do semiárido da Paraíba, de um imponente instrumento, pioneiro das discussões e experiências mais profícuas e exitosas, direcionadas para o desenvolvimento do Nordeste brasileiro.
Darcy Ribeiro dizia que nenhum livro se completa e acreditava que o autor sempre podia continuar, por um tempo indefinido. Consciente disso, Josemar vivenciou essa angústia, mas mesmo não se cansando da obra e, sabendo da existência de outros fatos e episódios, deu-a por concluída. Bom pra todos nós, pois nos brindou com uma excelente peça literária.
O autor revela que é um ser voltado para o passado, interessado no presente e muito preocupado com o futuro. Não sei qual dessas inquietudes é maior nele. O que pode aliviá-lo é, talvez, o depoimento de outro importante homem nordestino, Joaquim Nabuco, quando afirmou certa vez, que o passado, o presente e o futuro o levaram a conceber uma ideia de que o tempo nunca é só passado, nem só presente, nem só futuro, mas os três simultaneamente. Podemos notar que vivemos nesses três tempos, pois em determinados trechos da narrativa, Josemar age, como se a terra girasse ao contrário para fazer o tempo voltar, levando-nos a fazer uma extraordinária viagem histórica e sentimental.
São Gonçalo: Fragmentos da História é um documento de muita qualidade e profundidade em que é retratado o cotidiano do lugar, desde o início do processo de ocupação do sertão paraibano, entre 1680 e 1690, através da implantação das fazendas de gado, o advento da cultura algodoeira, a ascensão do paraibano Epitácio Pessoa à Presidência da República, quando foi autorizada a construção de obras necessárias à irrigação de terras cultiváveis na região.
É mais uma história do Nordeste brasileiro, mais precisamente do semiárido da Paraíba. E o responsável por essa obra, nos envolve com informações fidedignas sobre a região, o estado da Paraíba, a cidade de Sousa, a construção do açude de São Gonçalo, o cotidiano do povoado e sua economia, comércio, educação, saúde, cultura, esporte, entretenimento, ruas e suas casas com jardins americanizados.
Momentos marcantes vividos no lugar são destacados como a presença viva do cangaço e a visita de quatro Presidentes da República em ocasiões distintas da política nacional. Reflete também o atual momento do lugar. A importância do DNOCS, IAJAT e a presença do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba em suas áreas, dando oportunidade a seus jovens estudarem cursos superiores e técnicos de excelente qualidade.
O livro é uma exaltação ao nosso querido Acampamento Federal de São Gonçalo e, Josemar, um dos seus filhos amados, à custa de sua admirável memória, devassou o passado, evocou recordações, acordou lembranças e construiu uma obra que tem a sua marca: encontra-se eivada de responsabilidade, simplicidade e sensatez, reflexos de suas ações cotidianas de cidadão e de funcionário público federal.
Esta obra, para mim, torna-se um documento definitivo sobre São Gonçalo. Lê-la é sentir o sertão e todo o seu potencial, por isso recomendo-a e rendo homenagens ao seu autor.
Sousa-PB, 2013.
Prof. D.Sc. Francisco Cicupira de Andrade Filho