SUSPIRO das PEDRAS

“Amo a Pedra. Ela é fundamental” (Getúlio V. Zauza)

Suspiro das pedras são os olhos que veem a verdade. A ilusão que captura, persiste no que anula. Encontro em Donizete Galvão o livro Do Silêncio da Pedra, onde o autor busca na pedra algo de eterno e mostra como extrair lições de permanência dos minerais, “Quem diante dessa força bruta / batida por séculos de vento / não ouve aquele pioneiro sopro /vindo de onde ninguém tocou?”.

Suspiro das pedras são falas sob a voz, que se rompe contra a luz como réstias de paisagens. Mariza de Castro revela, “Invejo a solidez nua / das pedras descarnadas, / guardando segredos milenares / entre suas fendas. //... e sugo a sua força bruta / e sorvo / a seiva mineral...”.

Suspiro das pedras dura o instante do sopro dos ventos, onde a consciência renasce além da lucidez, renovada em seu refluxo, a história. Armindo Trevisan retrata, “... E as pedras, que das ribanceiras rolava? / Talvez tudo são lábios! E as amadas, // - adoradas! – não saibam o que falam, / mas saibam, a rigor, o que elas calam”.

Suspiro das pedras é o abrir e o fechar de portas, onde em mistério espiamos e reinventamos a realidade, para sustentar o cotidiano. Pedro Du Bois, em Casas em Pedras, descreve que “Preferimos a aspereza da pedra ao conforto do exílio: mesmo em nossas casas”. - “cidade grande/prédios altos/pela janela/única visão.//... saudade ao fechar a porta:/a solidão acompanha o dia /a confusão instalada à noite”.

Suspiro das pedras são infinitos caminhos que nos conduzem à verdade do tempo, como retorno ao encontro do amor e da arte. Foed Castro Chama demonstra, “contagiar esta pedra com o sentido/o de que é pedra e simpatia nascente. // ...a pedra mágica.” ; e, na tradução de Dante Milano, “Pedra, coisa do chão, face parada,/Indiferente acaricia da mão, / Figura inerente que não sente nada, / corpo que dorme e a que ma abraço em vão”.

Suspiro das pedras são talentos “visíveis” que no escrever com consciência não se deixam vender; preocupam-se em ser “conhecidos-lidos” no influenciar com suas ideias para serem aceitos. Defendem suas palavras com visão do mundo, para ao longo da história, haverem reimpressões de suas obras, como as deixadas pelas pedras.

Para Rodrigo Petrônio, “Quanto mais tempo passa mais o passado se amplia na memória //... olha nos meus olhos vazios e vê o pó que se conserva dos meus dias...”; como IgdeOL, no poema Banco de Pedras; João Cabral de Melo Neto, na A Educação pela Pedra e Depois em que retrata a aspereza do nordeste; Pedro Du Bois, com o livro O Senhor das Estátuas, “para aqueles / que construídos / em estátuas / delas se libertam /não como senhores / mas como pessoas”.

Suspiro das pedras são parcerias criativas na palavra escrita, na leitura e no diálogo, para que dúvidas sejam resolvidas, histórias contadas e detalhes do mundo imperem no encantamento, como em Antonio Olindo, “comecei por tocar a pedra /... Na tentativa de ensiná-la / A sorrir / ...Pude saber que a pedra / Me ensinara austera / A sorrir...”.