O POEMA-MOEDA
A palavra, em poética, só admite aquisição daquilo que não é coisa, visto que para este apossamento exclusivamente material existem tantas e variegadas moedas geradas ou gestadas por meio do simples ato de troca, em resposta à urgente necessidade, sempre individuada, mesmo que componente de anseio coletivo.
Há que haver um agente voluntário capacitado para realizar ações que culminem no escambo. E estas são sempre mudancistas: importam em troca de situação, postura, estado ou contingência frente ao Novo.
A perspectiva de utilização do poema-moeda nasce num repente de ansiedade de alma e circunstância para florir a falsidade, o sonho, a fantasia (veraz?) do farsante sonhador assentado na palavra em seu vestido de festa, o que equivale a dizer: não estamos no lugar comum da vida. Tudo, em Poética tem aparência e foro de Novidade.
Signos, palavra, imagem, visualizações sob novos prismas: conceituais nascidos e transfigurados, nova linguagem em sentido inusual, incomum – o conotativo – ungido e redimensionado pela amplitude da metaforização.
E esta nova ambientação decorre, originariamente, da (humilde) palavra subvertida em seu genuíno sentido ou acepção: a singeleza da metáfora: rasa, estrita, simples figura de estilo ou linguagem. Todavia, essa se expande em imediata contaminação imagética por todo o universo sensorial em que atua: noiva em dia de casório, vestido esteticamente impecável, véu, grinalda, buquê floral, ritmo, música agradável produzindo sagração interior e veneração pelos mais inusitados valores conceituais.
Mercê que fale de e por si, o poema-moeda não pode se contaminar e vir a possuir, no seu território de invenção, praticidade, aplicação imediata ao mundo dos fatos, costumeira ganância e/ou a ferocidade das coisas.
Também não pode ser declaradamente midiático, mesmo que contenha alguma dose de hermetismo como disfarce.
Ainda que, por sua fortaleza verbal, ratifique a luxúria e/ou possessão sobre aquilo que o poeta-autor (e seus alter egos) se apercebam ou imaginem possuir, num certo momento de fúria, ira ou confronto lírico-amoroso: a virulência da paixão.
Tudo para que se possa plenamente identificar que o poema-moeda não faz concessão aos males de todos os tempos como palavra e atos subsequentes. Residem nele resquícios imaculados de sua castidade, do seu original estado de pureza em confraternidade.
A Poesia, nascida, exsurgida do ventre do poema é a polpa reconfortadora do Bem sobre tudo aquilo que tem preço, mesmo que não chegue à venalidade, o que, portanto, varia segundo os interesses e circunstâncias. O poema, seu dileto rebento em concretude de lavratura verbal, possui veleidades de permanente inocência.
A peça verbal a que chamamos poema é o amoroso fruto do amor universal e da férrea vontade de dizer, sorriso ou vômito, plasmando geração secular de levedura e amadurecimento da Liberdade, célula mater. E, por esta simples razão, não tem preço.
MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2022. https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/preview.php?idt=5793384