QUAL É O NOSSO LIMITE?

Esta pergunta provocativa norteia a nossa vida. O desejo é o mais consciente sentimento ao tecer a teia de expectativas, que aos poucos vai se alastrando em nossa alma até alcançar ou ultrapassar o nosso limite.

Faço desta pergunta o mote para as intervenções; com ousadia, endosso as artes, por exemplo: o compositor Noel Rosa, pela excelência de suas letras e músicas e, por sua postura inquieta, explorou ao máximo os recursos da tecnologia – no caso, o rádio – para levar a sua produção ao maior número de pessoas; chegou ao seu limite quando foi considerado o patrono da inovação na arte brasileira.

Algumas pessoas são metamorfoses ambulantes, em busca de seus limites elas se tornam incomparáveis e quebram paradigmas em áreas que transcendem ao cotidiano, o que se dá por razões que nos permite arcar com alto grau de visibilidade e criatividade. Assim, é possível meditar sobre o que mudaria a nossa visão de mundo, para saber qual é o nosso limite.

O escritor é quem demonstra o limite de forma criativa e brilhante, por que é a perfeição do artista que faz referências às épocas e fatos, mostrando os rastros do tempo ao espalhar suas palavras ao vento; e o seu limite, no modo com que representa os símbolos da linguagem: atemporais e universais. Nesse sentido, a descrição e a composição vêm acompanhadas da solidão, que está ancorada na imaginação pela feição literária. Encontro Manuel de Barros que explora o simples e tem por limite transgredir na poesia, como em “Desbiografias // Bernardo morava de luxúria com a sua lesma. / Não era fácil ficar ao seu lado sem receber algum contexto de lesma. / Nossa linguagem não tinha função explicativa – mas só brincativa. / Tipo assim: Eu vi uma pedra emocionada de borboletas... ////... A gente queria com as nossas visões afastar do bom senso o que fosse racional. / E cair no absurdo que faz a beleza da poesia: tipo assim: Nós vimos um sapo ajoelhado / no próprio abandono -...”.

Até que ponto temos consciência de que estamos em nosso limite? Talvez o pensamento expresse a construção e a desconstrução das palavras, dos sentidos, enfim, de viver e exercer a nossa humanidade. Penso que o nosso limite está atrelado às inúmeras páginas de experiências e rascunhos de ideias, que podem reescrever os mistérios da vida.

Criar é um dos segredos para a constante mistura de satisfação e limite, que nos consome com a certeza de mudar a realidade (tão complicada que ela é). A realidade que, ao mesmo tempo, nos provoca exaltação e, definitivamente, não a podemos conceber na vida sem sermos abraçados pelos limites.

Para saber qual é o nosso limite, basta não desistirmos dos ideais e das ideias, porque é na diferença que crescemos, transformamos e percorremos as obras literárias, que nos fascinam por ultrapassarem o nosso cotidiano ao misturar vozes que tecem e entrelaçam as trajetórias sem limites.