A CENA

“...é tempo de tempo / que o sonho ainda existe /

e que a vida é roda do mundo a girar” (Lise M.R.Fank)

Abro a porta que tem vista para a praia e vejo pulsar o ritmo do cotidiano ao se embrenhar nas águas do mar. Compartilho a paisagem quando mergulho no reflexo do espelho. Não há conceito, apenas imagens que ocultam minhas palavras. Não há espelho, há o reflexo da consciência de que o pensamento me persegue em único instante de liberdade. Como revela Gilberto Mendonça Teles, “... No seu espelho a realidade / se vê mais espessa e infinita, / porque ali o tempo se bate / no centro da árvore da vida”.

Nesta fresta a memória soa como eco entre uma palavra e outra; uma lembrança e outra; um pensamento e outro. Sorvo o ritmo do ar marinho ao olhar para o barco deslizando; como em Jaime Vaz Brasil, “... Quando a palavra / amanhece // desaba / e fusiona tudo // à fenda de um pesadelo / que espia seu conteúdo”.

Sem história, costuro o horizonte em seu infinito percurso e partilho a praia com o albatroz. De uma forma ou de outra, retiro a máscara e renego o que o vento demarca. Então, volto ao dia a dia onde encaro o sonho como sonho. Regresso aos meus sentimentos e recuso a paisagem, o barco e o mar que trama em ondas.

Espantada, acordo!