PÉROLAS

Na caixa do tempo encontro a beleza: pérolas. As horas passam e o sentimento paira sobre mim. Nilza D. Piagge diz, “Ai de mim, sem ti!/ transformação de colar de pérolas.../ Me abraço / Solitária te busco em mim //... Procuro entender as formas / as cores...”

Cubro o rosto e a imagem do colar de pérolas fica na saudade. As lembranças ao tocá-lo voltam em forma de luzes a manter o meu sorriso. Para Igor Fagundes, “... em sorrisos sempre o tempo se eterniza / e as histórias... se confundem / desaba a tarde e a manhã de novo ali / no meu espelho ...”

Sobrevivo às armadilhas da vida porque não me rendo às pérolas, apenas traduzo no olhar que não retém a lágrima e nem a linha do destino. Mário Benedetti escreveu, “... pérolas é segredo / e é brilho pranto festa cavidade / e outras alegorias...”.

O colar de pérolas marca o compasso do tempo e não é descartável, pois, sou autêntica em mim mesma. É a minha identidade ao toque, como o véu em sonhos. É ilusório quando meus sentidos murmuram falsas promessas, como se não tivesse valido a pena guardá-lo. Mas, é guardando que espero revelar o meu dia ao relembrar a história, como o grito no horizonte onde retenho a palavra secreta sobre o silêncio.

As pérolas lembram as noites em que o brilho dos seus olhos estiveram sobre mim. Flores e espinhos me conduzem adiante do tempo ao modular minha face e fase. Entre momentos, certezas e incertezas, o tempo guarda o colar ornando o meu retrato desgastado. Contemplo o instante guardado que se desintegra em mim, como em Yun Jung Im, “... Se a insônia me persegue... / em que sonho / poderei ver-te?”; e em Sonia Regina, “entre o avanço e o recuo sou eu / um corpo abafado pelo orgulho. / meio surda medro como uma planta. / minha voz cresce sem consentimento...”.

As pérolas trazem na veste a cena na incerteza do encontro, juntamente com o sorriso saudoso refletido quando avisto a caixa do tempo. Lindolf Bell alerta, “... em armazéns do tempo / as coisas permanecem / mais tempo / que o tempo destinado...”